A maioria das pessoas deve ter tomado conhecimento do incêndio que desde a noite de quarta-feira vem devastando o mercado Mini Preço em Amaralina, hoje pela manhã (4), inclusive a Policia teve que entrar em ação porque mais de 100 pessoas estavam querendo saquer o mercado. Um amigo jornalista, Ivan Cláudio, mora nas proximidades e faz um relato, que publico abaixo, com todos os detalhes e os dramas que caracterizam situações como essas.
Confesso que senti medo
Confesso que senti medo
Meus amigos confesso que senti medo ao ver as labaredas de fogo atingindo uma altura de mais de 15 metros. Pessoas passando mal, gritando desesperadas pela rua... Cenas que não gostaria de ter presenciado.
Não sei se algum de vocês já viu um incêndio de grandes proporções a menos de dez metros de distância. Eu vi pela segunda. A primeira foi em Rio Branco, no Acre, quando a Assembléia Legislativa foi destruÃda pelo fogo, na ocasião eu estava fazendo a cobertura jornalÃstica, mas ontem, por volta das 18h, quando abri o portão de minha casa dei de cara com o fogo e o desespero de meus vizinhos. Pessoas que com sacrifÃcio construÃram suas casas, formaram suas famÃlias, criaram seus filhos e estavam diante da perda de todos os seus bens materiais. Confesso que senti muito medo.
Quando vi pessoas correndo pela rua agarradas aos seus animais de estimação buscando um lugar seguro para ficar e eu, sem poder fazer algum esforço devido a minha cirurgia, me senti impotente diante do fogo que, aos poucos consumia o prédio do Mini Preço. Os bombeiros trabalhavam sem parar, nem mesmo para comer. Os carros pipas iam e vinham e o fogo não dava trégua. A fumaça tomou conta da rua e, por sorte nossa, o vento soprava para o lado da praia, assim não ficamos sufocados.
Vi uma senhora amiga minha aos prantos desmaiar e ser socorrida pela Samu. Meu quintal serviu como apoio para acalmar pessoas que até aquele momento eu nunca tinha visto, mas que precisavam de minha ajuda. Corri com alguns copos de água com açúcar ao mesmo tempo em que rezava e pedia a Deus que os bombeiros conseguissem apagar o incêndio. A cada instante ouvÃamos estouros, vÃamos muro desabando e pedaços de telha voando, diante do pavor de todos que estavam ali.
Fechei minha casa, preparei a caixa das minhas gatas e meus documentos, para caso precisasse sair correndo de casa. Ao chegar em meu quarto, que fica no segundo piso da casa, pude ter a noção exata da altura das labaredas diante dos meus olhos e o calor que emanava do fogo. Desci correndo, apesar de não poder, e me juntei aos meus vizinhos que aguardavam ansiosos a vitória dos bombeiros. As pessoas passavam uma pelas outras perguntando por fulano, cicrano... Os celulares não paravam, tanto para falar como para registrar esse momento de angústia que certamente será lembrado para sempre pelos moradores das ruas Jânio Quadros e do Balneário, em Amaralina.
Em um determinado momento voltei para o quintal para fazer companhia a uma cadela poddle que ficou em minha casa. Ela olhava para mim e para o céu avermelhado sem entender o que estava acontecendo, enquanto procurava por seus donos. Não deu pra aguentar, nesse momento passa um filme diante de seus olhos... Hoje, graças a Deus, o calor que sentimos é o do Sol e o da solidariedade dos vizinhos que passaram a noite em claro.
Ivan CláudioJornalista - MTb/AC nº 154