Texto de Caetano Veloso postado em seu blog sobre a retirada das pedras portuguesas da Barra. Vale a pena a leitura.
¨O prefeito de Salvador cometeu um crime ao substituir a calçada portuguesa do Porto da Barra por cimento e granito polido. Aliás, está cometendo. Obra em progresso. Estamos em posição de apanhá-lo em flagrante e impedir o assassinato. O estilo cafona deve ser semelhante ao do que foi feito na Praça da Sé pelo governo municipal anterior. E o prefeito então era Imbassahy, que é, até segunda ordem, meu candidato para as eleições que vêm aí. Mas a Praça da Sé era, havia muito, um lugar destruído. Talvez tivesse sido desmoralizada quando se derrubou a Sé para facilitar o trânsito dos bondes, bem antes de eu nascer. O que ficou tinha se transformado num terminal de linhas de ônibus muito feio. A arrumação luzidia que Imbassahy admitiu que lhe dessem é vulgar e perua, mas sobressai a impressão de que alguém limpou a sala. Foi uma madame tola e inculta, mas cuidou. No Porto da Barra, pode ser que qualquer trato dê a impressão de ser melhor do que nada a algum comerciante austríaco que tenha um barzinho lá. Mas o Porto da Barra é um ponto nobre do urbanismo de Salvador. Precisa ser cuidado. Jamais desfigurado. A calçada portuguesa é tesouro nosso, de povos que falam português: são parte de nossa estrutura anímica. Em São Luís se mostrou que a recuperação de calçamentos com pedras portuguesas (que não precisam ser portuguesas, como o desavisado prefeito chegou a julgar) pode ser feito com firmeza e precisão. No Rossio, em Lisboa, também. Sei que em Copacabana (não na praia, claro, porque aí até a Dysney ia protestar) mas na Nossa Senhora) fez-se algo parecido. Resolveram atribuir ao tipo de calçamento os desconfortos que advêm de descuido e maus tratos. Rua com chão que parece shopping center também esburaca se não há cuidado. O Porto da Barra é uma enseada pequena e parece um anfiteatro perfeito para se ver o pôr do sol, ladeada pelos fortes de Santa Maria e de São Diogo. A balaustrada e as pedras portuguesas (ensombradas por árvores) complementam o equlíbrio estético de um lugar que é a praia do povo da Bahia. Um luxo cool e popular. Pois o prefeito está retirando as pedras portuguesas e já derrubou oito árvores! No dia em que morreu Dorival Caymmi, protesto (e conclamo baianos natos e opcionais a protestarem) contra essa ação estúpida. Vamos repor as pedras portuguesas.¨
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REPOR, MAS TAMBEM CONSERVAR
ResponderExcluirSou inteiramente a favor da recolocaçao das pedras portuguesas nas calçadas da Barra, mas não é só colocar as pedras, é preciso fiscalizar a execução do serviço para que empreiteiros picaretas não substituam o cimento por areia e depois de alguns dias as pedras estarem todas soltando como acontece no restante da cidade ondes essas pedras são utilizadas. Não é só repor, é conservar tambem. Eu garanto que em Portugal quando uma única pedra solta no outro dia ela é recolocada.
AINDA SOBRE PEDRAS PORTUGUESAS
ResponderExcluirFaltou dizer que não existe em Salvador um único local onde essas pedras estejam perfeitamente assentadas sem nenhum buraco, às veses verdadeiras crateras lunares.