Enquanto as sociedades ditas de “primeiro mundo” preservam seu patrimônio cultural e arquitetônico, a modernidade ou pós-modernidade tupiniquim aniquila o seu!!!!! Arquitetos e urbanistas (embora seja essa minha formação tive o bom senso de beber de outras fontes como as Ciências Sociais) entendem-se como interventores espaciais, habilitados a encontrar soluções, na maioria das vezes prá lá de estrambóticas. O poder público não fica atrás!!!!! A visão modernista que o impregna encontra suas raízes no interesse capitalista dos novos ricos baianos, ávidos por riqueza, poder e status, os três pilares da contemporaneidade, sobre os quais se erigem a ética capitalista moderna, hipócrita, mesquinha e fraudulenta.
Tudo começa com a adoção de partidos equivocados, primeiro na arquitetura residencial, se estende para a empresarial e comercial e por fim abocanha tudo!!! A reinvenção capitalista que demandava novos códigos de morar e trabalhar, adota como máxima arquitetônica da modernidade em certo período, o uso de iluminação e ventilação artificiais, numa cidade, Salvador, famosa por sua luminosidade e boa ventilação!!!!
Caixotes e mais caixotes (alguns muito coloridos!!!!) foram e continuam sendo construídos dentro dessa lógica. Atualmente a Epidemiologia estuda síndromes decorrentes dos denominados edifícios doentes, isto é, doenças decorrentes da permanência prolongada em ambientes artificialmente ventilados e iluminados.
Surgem os condomínios verticais, se sofisticam e passam a oferecer uma variedade cada vez maior de itens para lazer e que agregam status. As áreas privativas entretanto, diminuem. Uma mudança radical no Código de obras de Salvador, na década de 80, elimina as áreas mínimas dos cômodos e as torna proporcional ao número de habitantes da residência. O resultado é o encolhimento dos espaços privados com quartos, salas, cozinhas, etc. cada vez menores, mais apertados e paralelamente aumento do leque de opções, dirigindo o olhar do comprador/morador para as áreas coletivas de lazer.
O Pelourinho, tão festejado, não passou de maquiagem. As pessoas que ali residiam alijadas do processo de “restauração”, foram transferidas para bem longe, onde não pudessem ser vistas!!!
A população hoje, entretanto, ainda que amadora no processo participativo, tem instrumentos e estratégias que lhe permite intervir, gritar espernear, embora muitas vezes esses gritos ecoem no vazio.
É importante que se organize um movimento para “Salvar Salvador”. A cidade é nossa, pertence sobretudo aos cidadãos, a despeito dos interesses de distintos segmento sociais. Cidade sem cidadãos não passa de um amontoado de construções sem destino, sem uso sem razão. Portanto, a cidade é primeiro de tudo uma abstração, concretizada pela ação e pelo vai e vem de seus cidadãos.
*Ana Almeida é professora Universitária