Por Antônio Matos*
A censura política, sofrida pela imprensa brasileira após o golpe militar de 1964, era feita de duas maneiras: ou por meio de bilhetes/notas oficiais e telefonemas do Exército (e, mais tarde, da Polícia Federal), determinando quais os assuntos que deveriam ser noticiados ou com censores/policiais, revisando nas redações todo o material a ser publicado, a chamada censura prévia.
Além disso, havia ainda as ações intimidatórias, como os “convites” para que repórteres, redatores, produtores e editores comparecessem ao comando local da Região Militar do Exército, a fim de prestar esclarecimentos a respeito de notas, matérias e reportagens já publicadas e apontadas, pelos censores, como atentatórias à segurança nacional ou que tivessem provocado prejuízos à imagem das Forças Armadas.
Na Tribuna da Bahia, onde trabalhei desde a Escolinha TB – uma oficina criada por Quintino de Carvalho, para os repórteres que iriam trabalhar no jornal – em 1968, até junho de 1974, acho que a censura foi mais rigorosa do que a exercida pelo governo militar nos outros veículos de comunicação do estado.
Os motivos para isso estavam mais ou menos explicados: embora presidida por um empresário e ex-banqueiro Elmano Castro, a TB tinha como redator-chefe o conceituado jornalista Quintino da Carvalho, com larga experiência no “Jornal do Brasil”, ex-integrante do Partido Comunista Brasileiro e com atuação destacada em “O Momento”, jornal do Partidão na Bahia, diversas vezes empastelado pela polícia estadual, e que circulou em Salvador, de 1945 a 1957.
Quintino, que resgatara, no hoje extinto “Jornal da Bahia”, Misael Peixoto, chefe da diagramação – seu colega em “O Momento” e também antigo filiado ao PCB – comandava uma redação, em sua maioria, formada por esquerdistas de todos os matizes (radicais, atuantes, ideológicos, festivos e simpatizantes), jovens rebeldes e idealistas, basicamente com menos de 25 anos e recrutados nas faculdades de Biblioteconomia e Comunicação e de Direito.
Diante deste ambiente incendiário, cansei de ver, da minha carteira da chefia da Editoria de Esportes, bem em frente ao corredor, notadamente no ano de 1973, a chegada dos temíveis e pouco simpáticos censores, dirigindo-se arrogantemente, ao gabinete do redator-chefe, com as notas – muitas vezes, numa tira fina de papel – que sempre começavam com um vago “de ordem superior” e, em algumas ocasiões, chegavam a fixar o período da proibição.
Quando o assunto tinha a classificação “muito importante” pelos órgãos de repressão, era o próprio superintendente regional da Polícia Federal – no caso da Bahia, o coronel do Exército, Luiz Arthur de Carvalho – quem pessoalmente encaminhava às redações o que estava proibido ou o que deveria ser divulgado.
A censura era indiscriminada: proibia a publicação de uma epidemia de malária no Amazonas, de notícias relacionadas ao aniversário de nascimento do revolucionário russo Lenin, do discurso de um deputado, até a divulgação de uma nova lista de presos políticos apresentada por sequestradores para troca por algum embaixador feito refém. As determinações eram pouco questionadas e sempre atendidas, às vezes até com algum exagero.
A doutrina de Segurança Nacional – desenvolvida na Escola Superior de Guerra (ESG), pelo general Golbery do Couto e Silva – utilizava a repugnante censura sob a alegação de que assim estaria combatendo o comunismo, responsabilizado por uma propaganda subliminar do sexo, do amor livre, da obscenidade, das drogas, por meio da mídia, do teatro, do cinema e da música, para corromper a família e os costumes.
Em defesa também desta injustificável censura à imprensa, Gama e Silva, ministro da Justiça durante o governo Costa e Silva e redator do repressivo Ato Institucional número 5, procurou minimizar a intervenção do Estado na mídia. Usou um eufemismo, ao afirmar que eram apenas orientações para a redação dos noticiários e das publicações “dentro de um clima de respeito à autoridade”.
Felizmente, os tempos são outros. Não existem mais Golbery nem Gama e Silva. A censura política na imprensa – pelo menos, ostensivamente e de modo oficial – é coisa do passado. É bom lembrar que a liberdade da imprensa, inimiga dos ditadores, é fundamental para o desenvolvimento do país, pois incentiva o debate, amplia o acesso às informações e promove a troca de ideias.
*Antônio Matos é jornalista e delegado de polícia
Assista:
EUA e o Golpe militar no Brasil em 1964
Cidadão Boilesen (Documentário)
É isso aí e muito mais!
ResponderExcluirSão as "MEMÓRIAS DAS TREVAS" (Livro sobre as atrocidades de ACM)
Agora eu questiono:
Tá bonito isto Senhor da Guerra (EUA quem temia que o Brasil se transformasse numa nova Cuba)?
Tá bonito isto Senhora Igreja Católica (quem também apoiou o golpe)?
Tá bonito isto Senhora Rede Globo (apoiou o golpe desde o inicio)?
Tá bonito isto Senhores Empresários brasileiros (quem apoiou e perpetuou o golpe até hoje através dessa nossa constituição mascarada pelo famoso processo de licitações viciadas)?
Já ouviram falar de HENNING ALBERT BOILESEN ? Se não, assistam ao vídeo postado neste link:
http://www.youtube.com/watch?v=U4O0_BqNZKQ
O pior Tito é que ainda hoje tem gente que defende esse ditadura que tanto prejuízo trouxe ao país.
ExcluirPois é Carmela, os mais jovens não têm ideia do que foi o período e chumbo, mas é bom lembrar essa data para ficarmos atentos e vigilantes à nossa democracia. É muito melhor a juventude na rua protestando do que os militares prendendo e torturando. Ditadura nunca mais,
ExcluirRaimundo, os militares deram o golpe, mas eles contaram com o apoio de parte da sociedade, do Congresso, do Judiciário e parte da mídia. Vc tem razão quando diz que precisamos estar vigilantes. O exercício da democracia dá trabalho, mas ainda não inventaram regime melhor.
ExcluirO golpe d 1º de abril me pegou com 17 anos, o que tinha começado com uma ação de um de um tresloucado comandante de exército (uma vaca fardada, segundo ele próprio) transformou-se numa ditadura que durou 21 anos, a verdade é que existia um clima de desordem que assustou a classe média, era Brizola com seu grupo dos "onze". Julião com as Ligas Camponesas, rebelião de marinheiros, etc. Interessante era que se dizia que o esquema militar de Jango era forte, mas na ora do vamos ver tudo desmoronou. Mas, se por um lado os militares quiseram transformar o Pais num grande quartel, por outro os civis pós-golpe não estão se mostrando a altura de dirigir, com eficiência, os destinos da nação.
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