Lá se vão oito anos de interrupção da obra que estava dando certo para o turismo baiano, trazendo investidores, estudiosos e turistas, e fomentando o consumo da cultura e a economia local. Nesse meio tempo, o centro histórico de Salvador já perdeu vários casarões, outros se tornaram irrecuperáveis, e monumentos preciosos estão caminhando para o mesmo fim. O Convento de São Francisco de Assis precisa da mesma caridade que os gestores baianos oferecem diariamente ao pessoal da música, afinal, não se vive só de pão e circo. Salvador está perdendo um dos mais belos e preciosos conjuntos de painéis de azulejos do mundo!
IPHAN, Governo do estado e Prefeitura não se entendem sobre a necessidade de desocupar os casarões, limpar o Centro Histórico, iluminar, facilitar o acesso, e garantir a segurança, mas a cada dia criam mais festas, gastam como se elas fossem o principal atrativo da cidade. E não é! Carnaval fora de época? Afródromo? Quem ganha com isto? Não é o povo, a Cultura nem o Turismo! Enquanto isto, baianos e turistas que entram no Pelourinho, não são direcionados para o lugar onde viveram o Antonio Vieira, o Rui Barbosa ou o Castro Alves. Belíssimas obras como a pintura barroca na Igreja da Misericórdia ou os entalhes de Caribé, no Museu Afro-Brasileiro, estão escondidas por falta da sinalização que já consumiu tanto dinheiro público. A Casa da Música deveria estar no Pelourinho, o primeiro trio elétrico, etc.! O maravilhoso painel de Caribé, na Praça Castro Alves, precisa de cuidados, assim como a fachada da Ordem Terceira de São Francisco.
O candomblé tem seus símbolos explorados por gestores e músicos, inspira tanta gente, mas não tem apoio institucional, nem de nenhum artista, para a visitação e para usufruir dos benefícios do turismo. Nenhuma agência da cidade oferece qualquer programa regular envolvendo religião! Nem candomblé, nem Irmã Dulce, nem Mansão do Caminho! Poucos baianos e turistas conheceram o maravilhoso Museu de Arte Sacra, a missa com canto gregoriano, dos beneditinos, ou os concertos de música barroca, de órgão, na Catedral Basílica. A feira de São Joaquim, que consumiu tanto dinheiro do Turismo, envergonha a cidade. As obras do Mario Cravo, no Parque de Pituaçú estão abandonadas! E os gestores do turismo se comportam como se a cidade estivesse uma maravilha, precisando de mais festas. Mas o pessoal do turismo não tem nada para festejar, a não ser os ‘amigos do rei’, como a agência que monopoliza Costa de Sauípe e outra que recebe os cruzeiros!
Falta cultura, conhecimentos técnicos e dedicação exclusiva nos gestores do turismo de Salvador! A cidade poderia receber muito mais turistas diariamente, como os grandes centros turísticos do mundo, e melhorar seus índices econômicos e sociais. Mas é preciso que o próprio povo a conheça, respeite e preserve sua história, memória e tradições. Não é por causa de praia ou festa que Salvador recebe turistas, e sim por Jorge Amado e o Pelourinho, conhecidos mundialmente! Mas é preciso ter hotéis, cobrar a responsabilidade cultural de quem se propõe a ter agência de turismo receptivo – nenhuma agência está oferecendo a visita à casa do escritor, que está belíssima! - profissionalizar o atendimento de guias de turismo, principalmente no Centro Histórico, e reconhecer, estimular e proteger o transporte de turismo qualificado. A prefeitura oferece tanta festa, mas negou aos condutores autônomos o trânsito livre para conduzir turistas no Carnaval!
O Brasil está acompanhando estarrecido o desenrolar do escândalo da Petrobras, efeito da ingerência do Estado na economia, e, como já se sabe, em vários outros setores. No Turismo também! O governo e seus parceiros controlam com mão de ferro a atividade. Desde 2007, vários empréstimos foram tomados em nome do Pelourinho e da Baía de Todos os Santos, mas o turismo náutico é caótico, não há infra-estrutura turística em nenhuma praia da baía, nenhuma praia para oferecer em Salvador, e o turismo só diminui na cidade, em conseqüência da ruína e dos riscos dos seus principais atrativos, conhecido nos principais pólos emissores. Enquanto isto não for encarado com seriedade por gestores, empreendedores e profissionais do setor, a cidade continuará perdendo seu patrimônio, competitividade e turistas. O baiano pode ser enganado, a indústria turística, não!
*José Queiroz é guia de turismo especializado em Turismo Receptivo
https://turismoreceptivo.wordpress.com/
Quem quiser conhecer, venha logo, antes que acabe !
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