Nascida e criada no Rio Vermelho, mais precisamente na Vila Matos, Luciana Cruz se projetou como liderança desde muito cedo quando precisou se juntar a outros moradores para defender as famílias ameaçadas de expulsão no Alto de Ondina, comunidade que começou a se consolidar na década de 50. No final da década de 60 com a abertura de Vales e Avenidas e a instalação de equipamentos e alguns condomínios de luxo, a área começou a despertar o interesse da especulação imobiliária pela localização privilegiada. Na década de 90 ocorreram ações violentas com a derrubada de casas e foi com muita luta e organização que os moradores conseguiram consolidar a comunidade. O Alto de Ondina está situado nos morros entre Ondina e Rio Vermelho se expande entre o Jardim Zoológico (Ondina) e a Vila Matos (Rio Vermelho)
De postura destemida e com perfil de liderança, Luciana projetou-se nos movimentos sociais de Salvador, representando a Vila Matos, o Alto da Sereia, Alto de Ondina, Alto da Alegria e Zoobotânico. A sua atuação também se insere na defesa das mulheres, da igualdade de gêneros, contra a homofobia e na valorização das comunidades.Nesse contexto vem contribuindo para manter tradições culturais da Vila Matos como o Banho à Fantasia, que acontece todos os anos 15 dias antes do Carnaval e o Bloco Lero-Lero, esse último, uma agremiação fundada há mais de 70 anos pelo seu avô Monarca e levado a diante pelo seu pai ,o mestre Cacau do Pandeiro, ícone da Música Popular Brasileira , instrumentista reconhecido internacionalmente.
Nesta entrevista ao Blog do Rio Vermelho Luciana conta um pouco do seu trabalho como liderança comunitária e os problemas enfrentados .
Blog do Rio Vermelho- Qual o papel de uma liderança comunitária?
Luciana- Ajudar a comunidade nas questões sociais , encaminhando as demandas para os órgãos competentes , além de promover a politica da boa vizinhança entre os moradores.Blog do Rio Vermelho- Quando e por quê você assumiu esse papel ?
Luciana- Há 25 anos pelo falecimento de um morador que realizava eventos no Alto de Ondina e, em seguida, fui convidada para fazer parte do Conselho de Moradores para defender a moradia dos que ocuparam terrenos no Alto de Ondina, ameaçados de expulsão.Blog do Rio Vermelho- Quais os principais problemas que uma liderança comunitária enfrenta em áreas como as que você representa em um bairro como Rio Vermelho?
Luciana- Descriminação, classe social, localidade onde mora e desrespeito por parte dos órgãos públicos.Blog do Rio Vermelho- Na sua área de abrangência, Alto de Ondina, Vila Matos, Alto da Sereia, Alto da Alegria e Zoobotânico o que mais lhe deixa angustiada?
Luciana- Falta de atenção e respeitoBlog do Rio Vermelho- Então você acha que existe alguma separação entre as áreas que você atua e o restante do bairro?
Luciana- Sem sombra de duvidas. Nossos pedidos dificilmente são atendidos, enquanto os das áreas consideradas nobres, rapidamente são atendidos. As vezes é preciso suplicar para ser atendido em uma simples troca de lâmpada, imagine o resto.Blog do Rio Vermelho- Com todo esse tempo atuando você diria que a luta vale à pena?
Luciana- Sim, pois conseguimos firmar o Alto de Ondina como uma localidade do Rio Vermelho onde não temos mais demolições de casas por parte da prefeitura e hoje estamos mais tranquilos. Mas a luta continua na busca de nossos direitos e temos muitas coisas ainda pra conquistar.Blog do Rio Vermelho- O que você considera como maiores conquistas dessa área a partir de sua atuação?
Luciana- A permanência da comunidade no local, obras de qualificação, revitalização e cursosBlog do Rio Vermelho- Atualmente quais são as principais reivindicações e como tem sido a atuação dos órgãos públicos na área?
Luciana- Transporte e posto de saúde. Atuação dos órgãos nessas comunidades é complicada ,quase nunca somos atendidos nas solicitações encaminhadas.Blog do Rio Vermelho- Você costuma dizer que essas são áreas invisíveis do Rio Vermelho explique isso.
Luciana- Pelo perfil social o Rio Vermelho é dividido em duas partes, a área considera nobre e os renegados que somos nós.Para a área nobre onde estão donos de bares, restaurantes, hotéis, escolas, universidades, academias, clinicas e moradores da classe media alta, as solicitações são atendidas, agora quando são os renegados, há dificuldade para tudo: Tapar um buraco, recapear uma rua, colocar corrimão nas ladeiras, enfim, melhorar um pouco a vida da população.Blog do Rio Vermelho- Não vou fazer a última pergunta vou pedir apenas para que você abra o coração e diga o que deseja para as comunidades que representa?
Luciana- Primeiro de tudo respeito, somos população do mesmo jeito que os outros, pagamos impostos, temos direitos !Não justifica governar para uma única classe e esquecer as outras ,precisamos de unidade e compreensão independente de quem esteja no poder. Quero muito poder ver as localidades com área de lazer, posto de saúde, transporte e um aspecto melhor para todos os moradores, para que isso aconteça é preciso apenas ter vontade.
Queremos cumprimentar e parabenizar nossa querida amiga Luciana, essa maravilhosa guerreira que, com todas as dificuldades e percalços,conduz com garra e inspiração obstinadamente a defesa dessa população esquecida pelos poderes públicos. Você sem dúvida alguma é um grande referência do Rio Vermelho, sentimos orgulhosos de termos como moradora e amiga!
ResponderExcluirMuito difícil mesmo trabalhar pelas comunidades onde vivem as pessoas mais humildes, sei muito bem o que é isso. Concordo quando você diz que somos os invisíveis da sociedade .Só lembram de nós quando acontecem tragédias. Parabéns por sua luta.
ResponderExcluirObrigada Regina,
ExcluirTemos que acreditar que vai mudar e que algum dia seremos respeitados independentemente de classe social.
Governar pra todos e não para alguns.