Os 100 anos de samba serão celebrados na Bahia durante a 44ª edição da Semana do Samba, que a partir de 27 de novembro realiza diversas atividades e, no dia 02 de dezembro, Dia Nacional do Samba, o sempre apoteótico show que reúne grandes nomes do samba brasileiro, no Terreiro de Jesus, a partir das 19h. E como este ano a Semana do Samba também homenageia as mulheres e sua atuação para a continuidade e renovação do gênero, Zélia Duncan é um dos destaques desta edição e chega a Salvador com o show baseado no seu mais novo disco “Antes do Mundo Acabar”, onde ela canta sambas.
Com direção geral de Edil Pacheco e direção de produção de Paulo Dourado, o Dia do Samba reúne outras grandes artistas como , Juliana Ribeiro, Claudete Macedo, Gal do Beco, Verônica do Mar, Vânia Bárbara, Clécia Queiroz, Cláudia Costa, todas cantando samba. Destaque para Daniela Mercury, que sempre flertou com o ritmo em suas variadas formas e fará uma apresentação especial. Mas há lugar para a voz dos homens também, claro. Edil Pacheco, Nelson Rufino, Walmir Lima, Gerônimo, AloÃsio Menezes, Raimundo Sodré, Roberto Mendes, Roque Bentenquê, Tom Barreto e o grupo paulista Bambas de Sampa, subirão ao palco no grande show.
Semana de Celebração – Mas programação que comemora o samba na Bahia começa já do dia 27.11, à s 10h, com uma roda de samba na Cantina da Lua voltada para o samba tradicional, contando com a participação de sambistas e sambadores baianos, com destaque para os grupos de Chula, Samba de Roda e grupos populares de Salvador do Recôncavo baiano; no dia 28, a partir das 15h, será realizada uma roda de conversa “O Tempo do Samba”, no Palácio da Aclamação; no dia 29.11, à s 15h , no Centro de Cultura da Câmara Municipal, uma sessão especial proposta pelo vereador Odiosvaldo Vigas, será conduzida pelo sambista Edil Pacheco e terá como palestrante a também sambista Juliana Ribeiro e o professor Paulo Dourado,; ainda no dia 29.11, haverá show de Gerônimo Santana, na Praça Pedro Arcanjo, à s 20h, com a participação de sambistas e sambadores;
Antes do Mundo Acabar - Zélia Duncan canta samba no seu mais novo disco “Antes do Mundo Acabar”, e traz composições inéditas, compostos por Zélia e vários parceiros, e outras que surgiram nas pesquisas de repertório, como “Por que você não me convida agora”, de nosso amado Riachão . Mas tem também músicas de Xande de Pilares, que co-assina três faixas e dá uma canja no samba “No meu paÃs”, e parcerias com Pedro LuÃs, Ana Costa, Bia Paes Leme, Zeca Baleiro e Arlindo Cruz. Da pesquisa inicial, Zélia Duncan registrou sambas Paulinho da Viola (“Pintou um Bode”), Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho (“Em cada canto uma esperança”) e Moacyr Luz (“Vida da minha vida”). “São 5 mestres, além de uma linda composição que Pretinho da Serrinha, Leandro Fab e Fred Camachofizeram especialmente pra mim (“Por água abaixo”)”, comemora. “Antes do Mundo Acabar” já é um sucesso – além de super bem aceito pela crÃtica, consagra Zélia como (também) cantora de samba e promete botar toda a famÃlia para cantar e dançar como se não houvesse amanhã.
O Samba faz 100 Anos – O dia 27 de novembro 1916 entrou para a história da música como data oficial do nascimento do samba porque foi neste dia que ocorreu o registro na Biblioteca Nacional de “Pelo Telefone”, oficialmente o primeiro samba da história. A composição era de Donga, filho da baiana Tia Amélia (parceira da lendária Tia Ciata, entre outras baianas festeiras que se mudaram para o Rio) e foi gravado em 1917 por “Baiano”, um cantor e violonista, natural de Santo Amaro da Purificação, à época muito conhecido no Rio de Janeiro.
O fato é que o Samba de Roda já existia na Bahia, em todo o Recôncavo, desde o inÃcio do século XIX. Surgiu integrado à s festas dos Terreiros de Candomblé, como parte do processo de reorganização social e aculturação em terras brasileiras da comunidade afrodescendente. Expressava os sentimentos de libertação e resistência que animariam os episódios do Ciclo da Independência como: a Conspiração dos Búzios (1793), o 2 de Julho (1823), a Revolta dos Malês (1832), a Abolição da Escravatura (1888), o Bembé do Mercado (1889) e a Guerra de Canudos (1897). Euclydes da Cunha já registra em Os Sertões a existência de “sambas” entre as festas tradicionais dos sertanejos da Bahia no Séc. XIX.
Levado para a Capital Federal por mães de santo como a Tia Ciata, e extraÃdo do contexto das festas populares, das rebeliões libertárias, das senzalas e dos Terreiros de Candomblé, o samba ganhou no Rio de Janeiro o porte de grande arte e hoje ombreia em estatura os gêneros icônicos (de música/dança) da humanidade, como a valsa, o tango, o flamenco, o rock’n roll e a salsa. Aos cem anos de idade, o samba é hoje o ritmo nacional. Em sua percussão ecoa o coração do brasileiro. Quer dizer, é no Samba que pulsa a vida, a identidade e a inteligência poética capaz de unir todo o povo dessa nação.
O Samba Nasceu na Bahia - Os africanos capturados pelo tráfico escravista eram oriundos de uma grande variedade de etnias e falavam lÃnguas distintas. E assim eram agrupados, (com base nessa diversidade) para que não se entendessem, dificultando de toda forma a articulação de rebeliões e ações de resistência. Foi nesse contexto que os batuques e os toques dos orixás funcionaram como uma linguagem que aglutinou esses escravos permitindo um entendimento entre eles que ia além de simples palavras. E foi daà que surgiu o samba em toda a sua diversidade.
A matriz foi o samba da Bahia (o samba de roda) surgido no Recôncavo e que é hoje tombado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. A programação da Semana do Samba 2016 em função dos cem anos deste gênero, busca refletir toda a amplitude e diversidade do universo cultural articulado à história do samba, uma das principais riquezas da cultura nacional. Ritmo que, pode-se dizer, dá origem a todas as realizações musicais tipicamente brasileiras e é um dos principais elementos da identidade cultural nacional, dentro e fora do paÃs.