Há quase 100 anos, um presente de Natal instalado na Barra transformou-se – incluindo o entorno – em um dos mais belos e frequentados cartões-postais de Salvador e que receberá ações de tombamento e requalificação pela Prefeitura. O Monumento ao Cristo Nosso Senhor, mais conhecido como Cristo Salvador, será alvo da segunda ação da Lei de Preservação ao Patrimônio Cultural do Município (Lei 8.550/2014), organizado por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM). O tombamento acontece em solenidade realizada nesta quarta-feira (29), dia do aniversário de Salvador, a partir das 17h. Na ocasião, o prefeito ACM Neto apresenta, no local, edital para requalificação do monumento.
O tombamento do Cristo Salvador traz como um dos motivos o fato de os monumentos públicos carregarem em si a simbologia de pertencimento, valores e memória de determinado lugar ou grupo social. A estátua foi indicada por traduzir-se numa obra de caráter religioso, resguardando valores da cultura local, além de simbolismos como bênçãos à cidade, fé cristã, proteção e paz.
Outro argumento de significativa relevância está na proximidade do centenário de existência da obra, o que reserva a ela mérito histórico e artístico. Integrada ao Morro, a estátua revela uma singularidade poética como elemento de composição de uma das mais belas paisagens da cidade, conferindo-lhe título de cartão postal. Também foi considerado o significado desse conjunto para a “Bahia de São Salvador”, enquanto marco de importância urbanístico-paisagística, reforçando e enaltecendo a necessidade de garantir a permanência no sítio onde está localizado o Cristo Salvador.
A primeira ação da Lei 8.550/2014 foi o tombamento do conjunto monumental do terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, também conhecido como Vodun Zô, localizado no bairro da Liberdade. O próximo conjunto que deverá ser regido pela legislação municipal é a Pedra de Xangô, em Cajazeiras XI, previsto para o próximo mês de abril.
Intervenções – O projeto de requalificação ambiental do Morro do Cristo, na Barra, engloba tratamento dos acessos e valorização do monumento, principalmente após ação de tombamento municipal da estátua e das ações de requalificação urbanística e ambiental dos trechos de orla de Salvador, realizadas pela Prefeitura desde 2013. A intervenção compreende uma área de aproximadamente 500 m² e o investimento previsto é de R$1,2 milhão.
As ações no monumento contemplam nova alvenaria de contenção, implantação de piso e de iluminação cênica. Além do restauro da estátua do Cristo Salvador, será feita substituição do pedestal, que passará de granito preto para vidro, sem alterar as características do patrimônio a ser tombado. A mudança do pedestal, junto com a iluminação, tem como intuito fazer com que as pessoas tenham a impressão de que o Cristo pareça “flutuar” ao largo do mar.
O projeto contempla também a instalação de uma Praça das Bandeiras que, inclusive, poderá ser utilizada para realização de missas campais. Haverá também melhorias no acesso, com instalação das placas atuais de concreto por granito – o que garantirá maior durabilidade – formando degraus ao longo da encosta. Será mantida ainda toda a vegetação existente, com uma diferença: o plantio de novos coqueiros na localidade.
História - De um presente de Natal para Salvador na década de 1920 até se transformar em um dos mais belos e principais pontos de visitação da cidade. A história do Monumento ao Cristo Nosso Senhor, também conhecido como Cristo da Barra, Cristo Salvador ou, erroneamente, como Cristo Redentor, é cheia de encantos como a própria capital baiana, banhada pelo Oceano Atlântico e pela Baía de Todos os Santos.
Localizada na Barra, a escultura foi fruto de uma encomenda do conselheiro José Botelho Benjamim. Natural de Lençóis, Benjamim foi promotor na Comarca de Lavras Diamantinas e juiz da Comarca de Valença, que se estabeleceu em Salvador em 1898. Ao se converter ao catolicismo, resolveu presentear a cidade com um monumento em louvor a Cristo.
A obra de arte ficou a cargo de Pasquale de Chirico, que se tornou um dos mais importantes escultores de obras públicas monumentais de Salvador do século XX. Feita em um único bloco de mármore Carrara, a estátua foi trazida da cidade italiana de Gênova para a capital baiana a bordo do navio Cervino. Inaugurada de forma solene em 24 de dezembro de 1920 – onze anos antes da instalação do Cristo Redentor no Rio de Janeiro – a cerimônia contou com discurso do padre Luiz Gonzaga Cabral, orador sacro da época, na gestão do então governador José Joaquim Seabra.
O primeiro local que abrigou o Monumento ao Cristo Nosso Senhor foi o Morro do Camarão, a alguns metros de onde a estátua está situada hoje. O pedestal era todo revestido em pedras de cristal de rocha da Chapada Diamantina, em alusão à região do benfeitor. No entanto, em 1967, a Aeronáutica decidiu transformar o local em área de segurança militar. A obra de arte, então, foi transferida para uma elevação defronte ao Morro Ipiranga e ganhou um novo pedestal, desta vez com base em granito preto. Com o passar dos anos, o local onde foi implantado o monumento passou a ser reconhecido como Morro do Cristo da Barra.
A nova localização deu maior visibilidade à obra de arte, cuja figura do Cristo possui 2,80m e 7m no total, contando com o pedestal. E mais: é uma das mais belas vistas da orla de Salvador, apreciada por moradores e visitantes principalmente para ver o pôr do sol na praia da Barra, até o Farol. Também hoje é ponto de encontro para um bom bate-papo, para o namoro e até mesmo para pequenas confraternizações ao ar livre.