Além dos casos em Santo Antônio, o Hospital Couto Maia atendeu a 31 pacientes vítimas da mesma ocorrência de outros bairros da cidade, também no período de março até agora. Como há muitas dúvidas associadas a essas ocorrências, o chefe do Setor de Vigilância Contra a Raiva do CCZ, Aroldo Carneiro, esclareceu, em entrevista à imprensa, nesta sexta-feira (12), os cuidados e tratamentos que a população deve tomar para não ser mordida e nem contrair a doença que o animal silvestre transmite: a raiva.
“O município monitora periodicamente alguns ataques de seres hematófagos (que se alimentam de sangue). São casos raros, eventuais, que só acontecem com alguma frequência no intervalo de alguns anos”, explicou Carneiro. Ele salientou que o último registro de pessoas atacadas com frequência em área restrita aconteceu há pelo menos 5 anos. Mas ele reforçou que todo o ser humano ou animal doméstico que teve contato com morcego precisa tomar a vacina antirrábica para se proteger.
Só há uma espécie de morcego que costuma se alimentar de sangue, o Desmodus rotundus. É somente no período da noite que eles saem de seus habitats à procura de alimentação. As vítimas geralmente são pessoas idosas e crianças, e a região do corpo humano mais atacada pelos voadores são as extremidades como pé, mão e pontos da cabeça. Os pacientes relatam uma fisgada inicial, no momento do primeiro corte. Aroldo Carneiro explicou que a mordida não causa dor intensa porque na saliva do morcego há substâncias analgésica e anticoagulante – esta última impede a rápida cicatrização do ferimento.
A maior parte dos ataques de morcegos ocorreu no Centro Histórico porque existem alguns fatores que predispõem o abrigo dos animais: os casarões abandonados, escuros, silenciosos e sem movimentação. “Além disso, o Centro Histórico não tem animais de grande porte, que é a predileção dos morcegos. Eles preferem se alimentar do bovino, do cavalo e ali não tem. Por isso, esses animais buscam uma alternativa, pois precisam de sangue para sobreviver, e aí eventualmente atacam um cão ou um ser humano".
De acordo o ele, foi detectado um aumento da população de morcegos na área. Isso se deve porque o homem está desmatando cada vez mais e destruindo cavernas, obrigando os morcegos a migrarem para as cidades.
Prevenção - No caso de qualquer mordida por animal silvestre, se recomenda fazer todo o tratamento profilático. A primeira orientação é que a pessoa que foi mordida deve lavar o local com água e sabão e procurar um posto de saúde. A raiva é uma zoonose com alta letalidade, que provoca a morte. A pessoa mordida precisa receber a profilaxia para receber uma imunidade e não desenvolver infecção.
O paciente deve receber uma dose de soro junto com a vacina, e mais três outras em dias informados no cartão de vacinação. Todo o tratamento costuma durar cerca de 30 dias. A Prefeitura dispõe de três unidades referenciadas para esse tipo de atendimento: o posto Alfredo Bureau, na Rua Brasília, no Imbuí; a UPA Hélio Machado, na Rua da Cacimba, em Itapuã; e UPA Rodrigo Argolo, na Rua Pernambuco, em Tancredo Neves. Além desses lugares, o tratamento ocorre em uma unidade de saúde da Ufba e no Hospital Couto Maia.
“Vale deixar claro que não é uma situação de pânico. As pessoas atacadas estão em tratamento. Se porventura alguém percebeu que acordou e viu a cama suja de sangue, deve procurar o serviço médico imediatamente. A maioria dos morcegos contribui para o equilíbrio ecológico e não são hematófagos, mas se alimenta de frutas e insetos. Os morcegos são animais importantes para controlar pragas, dispersar sementes. O cidadão não deve tentar capturar o animal e nem matá-lo. Basta informar o CCZ imediatamente. Uma equipe vai se deslocar até o local para recolher o animal”, explicou Aroldo Carneiro.