Por Gildásio Freitas*
Corria o ano de 1972. O bairro do Rio Vermelho vivia modorrento e torturante tempo da construção do Emissário Submarino da Mariquita, quando os moradores e comerciantes costumavam correr para as portas de suas residências ou estabelecimentos comerciais, dando as mãos, abraçando-se e rezando, ao ouvirem a zoada da sinistra sirene que anunciava o momento da explosão de mais uma carga de dinamite, que logo em seguida, após um estrondoso barulho, mandaria pelos ares grandes estilhaços de pedras os quais desobstruiriam o caminho por onde passaria o tal emissário.
Vale ressaltar que passados quase meio século da inauguração da badalada obra, com muitos fogos de artifÃcio, desfile de Afoxé e discursos inflamados de efeitos mirabolantes, os resultados concretos do empreendimento suscitam dúvidas até hoje. Apesar da bela reforma pela qual passou o bairro recentemente, o Rio das Tripas continua como péssimo complemento dos cartões postais do bairro.
Entretanto, voltemos ao Bar do Manu. Era por volta das 13h, quando sentado num banco da Koysas, loja de revistas e papelaria que eu e o Pino tÃnhamos ali no largo, defronte ao acarajé de D. Bolinha, no mesmo ponto onde hoje localiza-se o acarajé da Cira, percebi que um cidadão, com visÃvel aspecto de bêbado ou doente mental, se movimentava apressadamente em direção a nossa loja. Tratei logo de me posicionar na entrada, procurando impedir qualquer tentativa do mesmo adentrar em nosso estabelecimento. Minha previsão não falhou, o cidadão ao perceber meu posicionamento procurou uma outra porta aberta, cuja premiada fatidicamente foi a do Bar do Manu.
Foi um vexame total! Não se tratava de um bêbado e sim uma pessoa com distúrbio mental, provavelmente fugido de um manicômio (segundo a versão que prevaleceu é que o mesmo procurava um refúgio seguro). Ele se instalou no mezanino quebrando os cobogós e iniciou uma verdadeira chuva de cascos de cervejas e refrigerantes que intimidavam os que tentavam se aproximar do bar. Do lado de fora uma multidão de curiosos se agigantava, provocando um imenso congestionamento do tráfego. Nem mesmo a presença da viatura da polÃcia civil, das forças armadas e do carro pipa do corpo de bombeiros com seus fortes jatos d’água removeram o homem do seu quartel-general.
A noite já avançava sem perspectivas de solução quando alguém teve a brilhante ideia de chamar a polÃcia de choque, que ao ameaçar com seus ferozes cães não teve nenhuma dificuldade para que o “herói” finalmente, se entregasse sem oferecer resistência.
Gildásio Freitas* é filho do Rio Vermelho onde morou durante 30 anos. Historiador, escritor, sócio efetivo do instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia de Letras e Artes de Lauro de Freitas.
O dia em que o Bar do Manu quase parou a cidade
julho 01, 2017
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