Mudança do Garcia: Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco!
fevereiro 08, 2018
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Por Gildásio Freitas*
Os moradores do Garcia estão comemorando, merecidamente, décadas de saída ininterrupta da sua mudança, que vai às ruas nas manhãs das segundas-feiras de Carnaval. Pelo inusitado de ser o único sobrevivente dos chamados “blocos de sujos”, constitui-se, sem sombras de dúvidas, na maior atração deste dia. Estes blocos multiplicavam-se no centro da cidade, vindos de diversos bairros, num passado cada vez mais distante, onde predominava o lema “Com dinheiro ou sem dinheiro eu brinco”.
Estas entidades caracterizavam-se por serem blocos sem cordas, onde não havia distinção de cor ou de classe social. Vai quem quer era a filosofia. Com ou sem fantasia e sem ter que pagar taxa para poder se distrair, as despesas eram cotizadas entre os organizadores e a própria comunidade, com a ajuda de políticos comprometidos com o bairro, à exemplo do saudoso Ebert de Castro e de lideranças da comunidade, com destaque especial para o popular Lorito, reorganizador e principal incentivador desta agremiação quase centenária que aqui homenageamos.
Fantasiados, mascarados, travestidos e travestis destacavam-se pela maneira jocosa como se apresentavam, a pé, montados em animais, em cima de carroças, de carros ornamentados ou de bicicletas.
Outra característica da maior importância era a liberdade de expressão, manifestada através de tabuletas, faixas, cartazes e camisas, tecendo, quase sempre, as mais mordazes críticas aos governantes, em débito com o povão. Muitas destas características ainda prevalecem na Mudança do Garcia.
Essas críticas que costumam provocar desconforto em autoridades e a “invasão” do povão, “bagunçando” o desfile bem-comportado dos blocos elitizados, têm causado dificuldades à entrada da entidade na passarela do Campo Grande.
Vale ressaltar, que na gestão da Prefeita Lídice da Mata, houve total liberdade de manifestações, não havendo problemas, portanto, quando da entrada no palco principal da festa.
Estas e outras manifestações do povo baiano, presentes nas festas populares, estão sendo alvo de pesquisas, que estamos realizando num projeto de história oral/documental. Este projeto deverá resultar na publicação de um livro, objetivando reforçar o olhar para a necessidade das suas revitalizações.
Nessas pesquisas descobrimos inclusive que existiam diversas Mudanças, organizadas em bairros populares, sendo famosas as de Coutos, Plataforma, Massaranduba e Rua Nova do Queimado. Descobrimos também que a MUDANÇA DO GARCIA é bem mais velha do que imaginávamos, pois saiu pela primeira vez no domingo de Carnaval, 27 de fevereiro de 1927, há 91 anos, portanto, e dois anos antes de ir às ruas a primeira Escola de Samba, a Deixa Falar, fundada no dia 12 de agosto de 1928, e que foi às ruas pela 1ª vez no Carnaval de 1929.
A MUDANÇA e o bloco BACALHAU NA VARA, que sai na Micareta de Feira de Santana, também de 1927, são as entidades carnavalescas mais antigas que até então identificamos, ressaltando-se que a segunda desfila numa Micareta.
*Gildásio Freitas é professor, historiador e tem se dedicado a pesquisa de manifestações populares como a Mudança do Garcia e os Banhos à Fantasia. Durante muitos anos foi morador do Rio Vermelho - gildasiovfreitas@bol.com.br
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