O dois de fevereiro é dia de Iemanjá!

Por Cristiano Teixeira

Ontem foi a Festa de Iemanjá, aqui no Rio Vermelho, e sobre isto surgiu uma polêmica – bem, talvez não uma polêmica, mas um abuso – quanto ao nome da tradicional festa que remonta ao início do século XX. Imaginem que a prefeitura fez o impensável, mudou o nome da festa para Festa do 2 de Fevereiro. Como se a homenagem a Iemanjá, divindade do candomblé, único motivo da festa, tivesse sua existência e importância minimizada. Isto equivale a passar a chamar o Natal de Festa do 25 de Dezembro, Nossa Aparecida de Festa do 12 de Outubro, de São João de Festa do 24 de Junho, deu para perceber? Só Deus sabe quanta sapiência precisou a prefeitura para agir desta forma. Assim mandou produzir e afixar em postes do bairro, material impresso promocional da sua Festa do 2 de Fevereiro, ilustrado com um barquinho cheio de flores e sem a imagem de Iemanjá. Mas, a pesar disso, a multidão que veio ao Rio Vermelho trazer sua oferenda para Iemanjá, ignorou a intenção da prefeitura pois para ela, o dois de fevereiro é dia de Iemanjá!

Na manhã seguinte, um garoto forte e de pele curtida pelo sol mergulhava nas piscinas que se formam nas rochas próximas à Pedra dos Pássaros, onde eu costumo me banhar cedo, quando a maré está baixa. Ele tinha na mão um saco grande, feito com uma fina rede de fibra sintética. Perguntei a ele se estava catando pinaúnas, e ele respondeu que não. E, desapontado acrescentou: “Iemanjá aceitou todos os presentes. Ano passado achei um anel de ouro que ela devolveu e cinco notas de cinquenta Reais.” Aí ele mergulhou novamente, à procura de algum presente que Iemanjá não quisesse.

Na areia da praia da Paciência, onde fui em seguida, um gari limpava a praia com a ajuda de um ancinho e de um saco de lixo. Entre frutas e flores que foram recusadas pela Rainha do Mar e que ele recolhia no saco do lixo – havia também copos descartáveis, garrafas de plásticos e outros refugos, produto gente sem consciência – ele encontrou uma garrafa de perfume. Estava fechada com tampa. Ele abriu o frasco e cheirou sua fragrância com uma expressão de prazer e de alegria infantil. Pôs a tampa de volta e colocou o frasco no bolso da calça. Se Iemanjá não quis, com certeza, a patroa em casa ia ficar feliz em ganhá-lo!

Rio Vermelho, 3 de fevereiro de 2019.

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