Organizado pelo Centro de Memória da Bahia( Fundação Pedro Calmon-SECUL-BA), aconteceu na última sexta-feira(25) no auditório do Colégio Estadual Manoel Devoto, a segunda edição de 2024 do projeto "Conversando com sua História", dedicado ao bairro do Rio Vermelho foi uma oportunidade para debater e valorizar o legado cultural do bairro, sob a ótica de seus moradores.
A plateia na maioria formada de alunos daquela instituição de ensino, pode ouvir um pouco da história contada pela moradora antiga e editora deste BlogRV, jornalista Carmela Talento e pela moradora Maria José, responsável pelo Grupo Sociocultural do Rio Vermelho, idealizadora e organizadora do Natal de Luzes do Rio Vermelho, um evento que tem inicio em novembro com apresentação de corais, iluminação dos imóveis do bairro, desfile Natalino com a chegada do Papai Noel e jantar solidária para entidades que assistem crianças do bairro e entorno, na Companhia da Pizza, onde o proprietário, além de abrir o restaurante para o evento, também patrocina o jantar em um gesto de solidariedade e apoio às iniciativas do bairro.
A editora do BlogRV, falou sobre o inicio das festas isso em um período em que as famílias de outros bairros vinham veranear no Rio Vermelho para desfrutar de suas praias, na época livres de poluição e sem nenhuma rede de água pluvial emporcalhando as areais. "As águas das praias do Rio Vermelho eram consideradas até medicinais!" disse Carmela. As praias mais frequentadas eram de Santana, do Forte que fica próximo da Sesi, a da Avenida (hoje Paciência) e do Capim das Freiras um prainha onde se formavam verdadeiras piscinas entre as pedras e que jovens da época apelidaram de Praia dos Complexados.
A homenagem a Senhora Santana que era o centro das festividades, era uma festa móvel e acontecia entre os meses de janeiro ou fevereiro e contava também de eventos profanos que antecediam a grande celebração e a procissão. No Largo de Santana era instalado um serviço de alto falante que além de transmitir a programação também fazia propaganda de algumas casas comerciais, divulgava os aniversariantes do bairro, tocava musicas da época e estimulava a disputa entre as candidatas a rainha do Carnaval do Bairro, que era escolhida pela quantidade de venda de votos, os votos eram contados em praça publica, em um palco armado do Largo de Santana, e as torcidas das candidatas faziam a festa aplaudindo ou vaiando a depender de suas favoritas. Nesse palco também aconteciam os chamados gritos de carnaval promovidos pelas emissoras de rádio que tinham programa de auditório e o serviço de alto faltante fazia as transmissões ouvidas por boa parte do bairro. Também acontecia no palco a coroação da rainha e das princesas que desfilavam em carros alegórico no dia do Bando Anunciador dos Festejos do Rio Vermelho, pela manhã era realizado o Banho à Fantasia, organizado pela Comunidade da Vila-Matos, que seguiam em alegres grupos com homens vestidos de mulher com fantasias feitas de papel crepom ao som de batucas e tomavam banho na Praia de Santana os as fantasia se desmanchavam na água. O desfile de carros alegóricos e o banho à fantasia sempre aconteciam aos domingos 15 dias antes do Carnaval, segunda-feira acontecia a chamada segunda-feira gorda com desfile de blocos e na terça era divulgada a comissão responsável pela festa do ano anterior. Ai acontecia no novenário de Senhora Santana, com procissão seguida pela banda da PM ou do Corpo de Bombeiros que percorria a ruas do bairro, também era realizada a lavagem da Igrejinha. Os pescadores eram católicos na grande maioria e até para a entrega do presente que na época chamavam Presente da Mãe D´Agua entregue no dia 2 de fevereiro, pela manhã mandavam rezar uma missa e a tarde acontecia a entrega do presente dos pescadores praticamente sem a presença de populares. E assim foi a festa até o final praticamente o final dos anos 50, meado dos anos 60, quando o bando anunciador começou a entrar em decadência. Também ouve um desentendimento entre o padre e os pescadores de acordo com o livro "Basílicas e Capelinhas", em uma das missas mandada celebrar pelos pescadores em louvor a Senhora Santana pela manhã, antes da entrega do presente no período da tarde, o padre da época em forte homilia chamou os pescadores de ignorantes por cultuarem " uma mulher com rabo de peixe". Os pescadores e as pessoas que estavam no templo se retiraram irritadas com a fala do vigário e a partir dessa data não mais mandaram celebrar missa e começaram a fazer a entrega do presente de forma independente.
Em 1972 dos jovens se uniram ( Gildásio e Giuseppe) e realizaram o último Bando Anunciar com o desfile de carros alegóricos desse ano em diante a festa de Iemanjá foi se transformando na grande festa do bairro que atraia milhares de pessoas. Do antigo Bando Anunciador só sobraram mesmo as lembranças e alguns poucos registros fotográficos e o Banho à Fantasia, organizado na comunidade da Vila-Matos, mas com outra configuração com o desfile puxado pelo bloco Lero-Lero, criado pelos pais do Mestre Cacau do Pandeiro, já falecido ,e levado às ruas do bairro por ele até pouco antes de sua morte. Atualmente quem assumiu manter a tradição da família foi a filha Luciana Cruz que se vira nos trinta para conseguir manter a tradição, e o Lero-Lero com toda dificuldade, segue desfilando pelas ruas do bairro, sempre 15 dias antes do Carnaval. È uma pena a falta de patrocínio governamental para o evento, o Banho a Fantasia do Rio Vermelho é um dos poucos que ainda existe, e atualmente ganhado visibilidade o Banho a Fantasia da Preguiça.
Atualmente outras manifestações tomam conta das ruas do bairro, entre elas o desfile dos Palhações do Rio Vermelho e o desfile Natalino.
Carmela falou para a plateia de jovens que eles precisam conhecer a história das festas do bairro e assumirem o protagonismo cultural para evitar que desaparecem falou de questão que está em discussão sobre a organização do Presente de Iemanjá pelos pescadores, e do rito para salvaguarda da Festa de Iemanjá que está acontecendo no bairro.
Último Cartaz da Festa do Rio Vermelho criação do artista plástico Edivaldo Gato, cedido pelo professor Gildásio Freitas.