Vou começar a publicar alguns artigos no blog para aumentar a interatividade e ampliar o leque de temas para discussão os temas serão escolhidos levando em conta a atualidade e a oportunidade. Para estreia, pesquie um texto do querido amigo Vitor Hugo, no seu site http://www.bahiaempauta.com.br/ que trata da decisão do TSF de acabar com o necessidade do diploma para o exercício da profissão de jornalista.
Vitor Hugo Soares*
Ninguém segura o gênio e o ego do ministro presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. O ministro Joaquim Barbosa, único a arriscar-se na tarefa audaciosa de alertar o comandante da Suprema Corte e o País para a nudez da majestade, parece fora de combate ultimamente. Motivos de saúde o estariam impedindo de comparecer a julgamentos polêmicos e cercados de holofotes, a exemplo do que extinguiu a obrigatoriedade de diploma de nível superior para o exercício profissional do Jornalismo.
Mendes reinou como senhor quase absoluto da Corte. A unanimidade foi quebrada apenas pelo voto solitário e até meio tímido (neste caso) de outro ex-presidente do STF, Marco Aurélio Melo. Ainda assim, Marco Aurélio lembrou que a exigência do diploma acadêmico de jornalista, execrado ultimamente como o mais vil dos “detritos da ditadura”, existe há mais de 40 anos. Nesse largo tempo, quase uma vida, várias gerações ralaram nos bancos das faculdades de Jornalismo (boas ou precárias) para obter o canudo que permitiria concretização do sonho profissional.
Obrigatório, pela lei, mesmo para quem sempre combateu a ditadura (e sofreu em certos períodos conseqüências mais drásticas como a perda de liberdade física e de expressão), a exemplo do redator destas linhas, que agora se remói de culpa, diante dos discursos de tantos corajosos arautos da liberdade de imprensa que proliferam por todo canto nestes dias de confusão e geléia geral. Ainda bem que o ex-presidente do STF, em seu voto, defendeu “que o jornalista deve ter uma formação básica que viabilize uma atividade profissional que repercute nas vidas dos cidadãos em geral”. Menos mal, consola um pouco, apesar da goleada de 8 a 1 a favor da tese vencedora de Mendes.
Encerrada a sessão, o supremo comandante do Supremo correu para os abraços. Dias antes, na entrevista concedida à revista semanal Isto É, ele já havia demonstrado que não está para brincadeiras, vaias muito menos. O ministro afirmou na conversa com os repórteres Octávio Costa e Hugo Marques, que é alvo de um movimento organizado, por contrariar interesses. “Muito provavelmente até remunerado, pois em geral imprimem panfletos”, atira o ministro sem identificar o alvo, na matéria editada em três páginas de texto, ilustrada com uma foto emblemática do presidente do Supremo, em pose imperial, sentado na sua poltrona.
No Jornal da Globo, começo da madrugada da quinta-feira, horas depois de vencer a “batalha do diploma”, o presidente do STF, imponente, falava com o repórter Heraldo Pereira, em Brasília. No espaço chamado de Pinga-Fogo - em geral dedicado à discussão de tema polêmico do dia onde o contraditório é sempre parte essencial -, Mendes discursou sozinho. Quando o repórter lembrou o voto contrário do colega Marco Aurélio, o chefe da Suprema Corte fez ouvidos de mercador. Esperou a bola baixar antes de fazer novo arremate.
Na Isto É, depois de lançar farpas a torto e a direito na direção dos críticos em geral, aproveitou para bater com vontade no ministro Joaquim Barbosa, ao responder a pergunta sobre o conselho para ouvir a voz das ruas: “São gladiadores da opinião pública. Repito: essa tese de a Justiça ‘ouvir as ruas’ (defendida por seu desafeto maior no STF) serve para encobrir déficits intelectuais. Eu posso assim justificar-me facilmente, não preciso saber a doutrina jurídica. Posso consultar o taxista”, ataca Mendes.
Bem na linha da tese do cozinheiro, utilizada pelo presidente do Supremo no caso do diploma. “Um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área”, disse Mendes na plenária desta semana. Comparação tão simplória e genérica, que mais parece estocada política e vingativa, destinada a ferir seus críticos, que argumento consistente e isento de um jurista no exercício do mais alto cargo da magistratura brasileira. No denso ensaio “Anatomia do Ódio”, o jornalista e advogado Joaci Góes constata que muita gente tem prazer em sentir ódio. “Em compensação pela colheita negativa que isso pode acarretar, essas pessoas são tomadas por um sentimento, momentâneo embora, de inebriante poder, ao darem plena vazão catártica ao desejo destrutivo de agredir e retaliar derivado do ódio. Além do prazer, a liberação do sentimento pode alterar a situação que deflagrou o conflito, em caráter temporário na maioria das vezes. Ambos os efeitos, porém - o prazer sentido e a mudança operada - insustentáveis em médio e longo prazos-, são de curta duração”, diz o escritor a linhas tantas de sua obra de leitura sempre oportuna e recomendável.
Jornalista e advogado (com diploma nas duas profissões) estou rezando para que a razão esteja com Joaci, o mais novo imortal eleito para a Academia de Letras da Bahia. Amém.
Vitor Hugo Soares é jornalista (diplomado pela UFBA). E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
Mendes reinou como senhor quase absoluto da Corte. A unanimidade foi quebrada apenas pelo voto solitário e até meio tímido (neste caso) de outro ex-presidente do STF, Marco Aurélio Melo. Ainda assim, Marco Aurélio lembrou que a exigência do diploma acadêmico de jornalista, execrado ultimamente como o mais vil dos “detritos da ditadura”, existe há mais de 40 anos. Nesse largo tempo, quase uma vida, várias gerações ralaram nos bancos das faculdades de Jornalismo (boas ou precárias) para obter o canudo que permitiria concretização do sonho profissional.
Obrigatório, pela lei, mesmo para quem sempre combateu a ditadura (e sofreu em certos períodos conseqüências mais drásticas como a perda de liberdade física e de expressão), a exemplo do redator destas linhas, que agora se remói de culpa, diante dos discursos de tantos corajosos arautos da liberdade de imprensa que proliferam por todo canto nestes dias de confusão e geléia geral. Ainda bem que o ex-presidente do STF, em seu voto, defendeu “que o jornalista deve ter uma formação básica que viabilize uma atividade profissional que repercute nas vidas dos cidadãos em geral”. Menos mal, consola um pouco, apesar da goleada de 8 a 1 a favor da tese vencedora de Mendes.
Encerrada a sessão, o supremo comandante do Supremo correu para os abraços. Dias antes, na entrevista concedida à revista semanal Isto É, ele já havia demonstrado que não está para brincadeiras, vaias muito menos. O ministro afirmou na conversa com os repórteres Octávio Costa e Hugo Marques, que é alvo de um movimento organizado, por contrariar interesses. “Muito provavelmente até remunerado, pois em geral imprimem panfletos”, atira o ministro sem identificar o alvo, na matéria editada em três páginas de texto, ilustrada com uma foto emblemática do presidente do Supremo, em pose imperial, sentado na sua poltrona.
No Jornal da Globo, começo da madrugada da quinta-feira, horas depois de vencer a “batalha do diploma”, o presidente do STF, imponente, falava com o repórter Heraldo Pereira, em Brasília. No espaço chamado de Pinga-Fogo - em geral dedicado à discussão de tema polêmico do dia onde o contraditório é sempre parte essencial -, Mendes discursou sozinho. Quando o repórter lembrou o voto contrário do colega Marco Aurélio, o chefe da Suprema Corte fez ouvidos de mercador. Esperou a bola baixar antes de fazer novo arremate.
Na Isto É, depois de lançar farpas a torto e a direito na direção dos críticos em geral, aproveitou para bater com vontade no ministro Joaquim Barbosa, ao responder a pergunta sobre o conselho para ouvir a voz das ruas: “São gladiadores da opinião pública. Repito: essa tese de a Justiça ‘ouvir as ruas’ (defendida por seu desafeto maior no STF) serve para encobrir déficits intelectuais. Eu posso assim justificar-me facilmente, não preciso saber a doutrina jurídica. Posso consultar o taxista”, ataca Mendes.
Bem na linha da tese do cozinheiro, utilizada pelo presidente do Supremo no caso do diploma. “Um excelente chefe de cozinha certamente poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima o Estado a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área”, disse Mendes na plenária desta semana. Comparação tão simplória e genérica, que mais parece estocada política e vingativa, destinada a ferir seus críticos, que argumento consistente e isento de um jurista no exercício do mais alto cargo da magistratura brasileira. No denso ensaio “Anatomia do Ódio”, o jornalista e advogado Joaci Góes constata que muita gente tem prazer em sentir ódio. “Em compensação pela colheita negativa que isso pode acarretar, essas pessoas são tomadas por um sentimento, momentâneo embora, de inebriante poder, ao darem plena vazão catártica ao desejo destrutivo de agredir e retaliar derivado do ódio. Além do prazer, a liberação do sentimento pode alterar a situação que deflagrou o conflito, em caráter temporário na maioria das vezes. Ambos os efeitos, porém - o prazer sentido e a mudança operada - insustentáveis em médio e longo prazos-, são de curta duração”, diz o escritor a linhas tantas de sua obra de leitura sempre oportuna e recomendável.
Jornalista e advogado (com diploma nas duas profissões) estou rezando para que a razão esteja com Joaci, o mais novo imortal eleito para a Academia de Letras da Bahia. Amém.
Vitor Hugo Soares é jornalista (diplomado pela UFBA). E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
Também acho que jornalista deva er diploma! Todo e qualquer veículo de comunicação deveria ser obrigado a contratar apenas gente que sabe o que está fazendo, sabe o que está escrevendo e dizendo. Também acho que deva ter mecanismos para fiscalizar a mídia, assegurando a defesa da verdade e garantir que opiniões e fatos sejam divulgados sem distorções.
ResponderExcluirDa mesma forma defendo o diploma para o cozinheiro!
Acharam de comparar o jornalista jusamente ao cozinheiro! Ora bolas!!!
Como se cozinheiro não precisasse de diploma para trabalhar em restaurante! Já pensou nisso?
Claro que ninguém pensou que neste país ainda se costuma delegar tarefas subalternas e de pouca importância a pessoas com nenhum diploma, com nenhuma qualificação profissional, sem nenhum estudo, sem nenhum treinamento sequer... Falo de tarefas "simples" como... tomar conta de criancinhas e preparar a nossa comida! Para quem ainda não me conheco: sim, estou de sacanagem e acho sacanagem soltar uma babá sem qualificação em cima de meninas e meninos, como também acho sacanagem admitir um cozinheiro que não tenha pelo menos o curso do SENAC.
Se neste país todo profissional tivesse que ter a qualificação específica para se estabelecer e prestar serviços, ter sua empresa, não estaríamos entregues a um exército de curiosos e borra-botas.
Resumindo: exigo respeito para as cozinheiras e os cozinheiros.
Antes de mais nada é preciso que nós nos respeitemos a nós mesmos, não comendo qualquer "badofe" mal-amanhado, sem saber quem manipulou os alimentos, sem saber há quanto tempo a cebola picada previamene esperou pelo nosso pedido, sem saber há quanto tempo o óleo da fritadeira não é trocado, sem saber se o manobrista que vai guardar o seu veículo sai por aí cantando pneus tem carteira de habilitação...
Sim, defendo o diploma para jornalistas como defendo o diploma para cozinheiros... independentemente do talento de cada um!
Desejo a todos os jornalistas e a todos os leitores, a todas as cozinheiras, a todos os cozinheiros e frequentadores do Bistrô PortoSol - administrado por um taverneiro com diploma - um Feliz São João.
Bravo, Reinhard ! Fiquei muito feliz em ver que temos a sua companhia no Blog do Rio Vermelho . Você vai ajudar ,com algumas notícias, com as suas críticas produtivas e sugestões ,a valorizar ainda mais, o Blog da Carmela.Falamos assim , porque a idéia foi dela, o Blog é dela , mas está aberto ,o que quer dizer , que , na prática, é de todos nós. Carmela e frequentadores deste Blog: O Reinhard é gente boa e só virá acrescentar . Bravo , fratello mio.
ResponderExcluirUn'abbraccio di Sarnelli
Belo texto, como todos de Vitor Hugo. Esse tema é doloroso pra toda a nossa categoria. Confesso que não acreditava nessa possibilidade, mas para Gilmar Mendes e seus iguais a vingança foi irresistível. Pagamos pela ousadia de denunciar a picaretagem deslavada de ministros do Supremo e outras autoridades. Pra eles, não resta dúvida, é mais garantido substituir jornalistas profissionais por parentes, amigos e outros subservientes que fiquem devendo o favor do emprego.
ResponderExcluirEspero que a causa ainda não esteja perdida e que nos reste algum recurso contra essa violência. Tenho um exemplo em casa, de uma sobrinha que vira a noite e finais se semana estudando na Facom. A frustração dela talvez não seja maior que a minha, pois já iniciou o curso com essa ameaça, mas não sei se terá disposição para ir até o fim. A falta de perspectiva, agora, é ainda maior que a que enfrentamos.
Parabéns também, Carmela, por ser uma profissional competente e ética e ter aberto esse espaço, mais que domocrático.