Hoje é Festa da Boa Morte em Cachoeira


Irmandade da Boa Morte-Foto Manu Dias- Secom

A Irmandade surgiu em 1820 na Igreja da Barroquinha, em Salvador, deslocando-se, poucos anos depois, para Cachoeira onde se instalou definitivamente. Era comum à época que os diversos segmentos da sociedade baiana constituíssem irmandades as quais representavam seus interesses. Havia irmandades dos ricos, dos pobres, dos músicos, dos pretos dos brancos, entre outras. Entretanto, nenhuma de mulheres. De acordo com o sociólogo Gustavo Falcón, as mulheres nas irmandades dos homens, entram sempre como dependentes para assegurarem benefícios corporativos advindos com a morte do esposo. Portanto, a criação da Irmandade da Boa Morte, constituída exclusivamente por mulheres negras, foi uma inusitada iniciativa para a então sociedade patriarcal marcada por forte contraste racial e étnico.

Reunidas em nome da fé em Nossa Senhora, as irmãs jamais abriram mão de suas crenças ancestrais, praticando o sincretismo afro-católico e ajudando, até a abolição da escravatura, a compra da alforria de escravos. Sem dúvida, a disciplina e determinação dessas simples mulheres negras é um exemplo de resistência organizada ao regime escravista.

O calendário da Festa da Boa Morte, realizada anualmente no mês de agosto, inclui a confissão dos membros na Igreja Matriz, um cortejo representando o falecimento de Nossa Senhora, uma sentinela, seguida de ceia branca, composta de pão, vinhos e frutos do mar obedecendo a costumes religiosos que interditam acesso a dendê e carne no dia dedicado a Oxalá. A Festa é encerrada com a procissão do enterro de Nossa Senhora da Boa Morte, ocasião em que as irmãs usam traje de gala.

Por sua singularidade a Festa da Boa Morte vem atraindo, ano após ano, estudiosos, pesquisadores, historiadores, além de turistas de várias partes do Brasil e do mundo, com destaque para a crescente presença de negros norte-americanos que vêm em busca de suas raízes históricas e culturais.

Considerada, segundo o pesquisador Moraes Ribeiro, o mais representativo documento vivo da religiosidade brasileira, barroca, ibero-africana, a Festa foi tombada em 25 de junho de 2010 como patrimônio imaterial da Bahia por meio de decreto assinado pelo governador Jaques Wagner. O decreto inclui a Festa da Boa Morte no Livro de Registro Especial de Eventos e Celebrações.( pesquisa José Lepo)



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