Boteco deve um pedido de desculpa à comunidade da Vila Matos

O historiador Gildásio Freitas*(foto) que estava participando do desfile do Bloco Lero-Lero no último domingo (12) e presenciou quando funcionários da Boteco Marina fecharam as portas na passagem do Bloco encaminhou correspondência ao Blog comentando o fato e manifestando surpresa com o que aconteceu. No documento assinala que acompanha a festa há varias décadas e nunca tinha visto uma reação semelhante, “quero acreditar que foi um equivoco por falta de conhecimento”. De acordo com o historiador a única atitude sensata seria um pedido formal de desculpa à comunidade da Vila Matos. Ele também enviou um texto contando um pouco a história desse bloco, que, semelhante à Mudança do Garcia, está inserido no contexto do “Carnaval da Resistência”.

FESTA DO RIO VERMELHO
O BANHO À FANTASIA DA VILA MATOS E O BLOCO LERO – LERO
77 ANOS DE TRADIÇÃO 1940-2017

Salvador sempre possuiu uma riqueza muito grande em manifestações culturais. Algumas se expandiram, chegando até a se agigantarem e se multiplicarem a exemplo das “Lavagens” e dos “Presentes”. Outras, no entanto, por razões diversas foram se extinguindo, como os “Bandos Anunciadores”, ou sobrevivem com dificuldades, onde se incluem os “Banhos de Mar à Fantasia”. Dos diversos que existiam em nossa capital, restou apenas o “Banho à Fantasia da Vila Matos”, que tem levado alegria ás ruas do Rio Vermelho, há quase oito décadas, juntamente com o Bloco Lero-Lero, que é oriundo dos blocos Jaraguá e Rei Zulu fundados por Aloísio, o “Velho Monarco” ainda na década de 1930.

Remanescente do tempo em que os festejos em louvor a Nossa Senhora Santana destacavam-se no ciclo das festas de largo, essa foi a melhor maneira que os moradores da Vila Matos elegeram para contribuir com o brilhantismo da festa, saindo sempre 15 dias antes do Carnaval, domingo em que também saía à tarde o “Bando Anunciador dos Festejos do Rio Vermelho”.

Muitos dos fundadores, participantes tradicionais e incentivadores já se foram: O Velho Monarco (pai de Cacau). Dona Mariêta, Sêo Vavá da Carroça, Belmiro, Né, Lulu Coió, Lulu Trator, Oscar Ceguinho, Lourinho, Dona Momó, Caca, Popeye, Gaz, Diogo e Procópio do bloco OS BIG´S, Sinézio, Vivaldo, Alarcon, Carlinhos Bahia, Renato (do Alto da Sereia), Baiano, Badê, Edinho Cacuá dentre outros.

Mas a velha guarda vem mantendo a tradição ao longo dos anos, através de Cacau e sua Orquestra, Tonho, Dourado, Beto Bulhões, Milton juntamente com André e a turma jovem das “Mocinhas” e outros colaboradores que a cada ano se incorporam a essa tão bela e espontânea manifestação popular que traduz o verdadeiro espírito do carnaval baiano.

Nas últimas décadas tem se destacado uma jovem que é hoje sem sombra de dúvidas a maior liderança da Vila Matos. Neta do velho Monarco e filha de Cacau, a grande baluarte da continuidade desta tradição, Luciana tem sabido conduzir não só esta como outras manifestações e lutar pelas reivindicações desta tradicional comunidade da velha Cidade do Salvador.

LERO – LERO
Marcha (Benedito Lacerda e Frazão)

No Tirol, só se canta assim:
“lero-leruuu! lero-leruuu
lero-lero...”
O nosso “lero-lero” é diferente
O clima aqui é muito quente
E a gente, pra, desabafar
Canta, canta, até o sol raiar:

Eu quero, quero, quero
Quero, quero o teu amor
Deixa de lero-lero,
lero-lero, por favor!...
O riso da morena
Nos prende, como anzol... 
O sangue da morena 
“Abafa” o velho Sol
(do Tirol)

*Gildásio Freitas, nascido na Vila Matos, onde morou durante 30 anos, é escritor, historiador, professor, sócio efetivo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia-IGHB e diretor do Patrimônio Artístico e Cultural da Academia de Letras e Artes de Lauro de Freitas-ALALF.

Boteco deve um pedido de desculpa à comunidade  da Vila Matos

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