Idealizada pela mulher preta Bárbara Carine, que é doutora no Instituto de Química da UFBA, a Escolinha Maria Filipa, localizada na Rua Barão do Triunfo, Rio Vermelho, realizar uma educação antirracista e afroafetiva desde a infância . Ao estabelecer uma educação infantil que traz como central a construção do conhecimento a partir de narrativas negras, indígenas e diaspóricas, a instituição se destaca ao formar crianças emancipadas e conscientes de um mundo diverso, feito por muitas mãos.
Pensada e construída por educadoras(es), a primeira escola afro-brasileira e trilíngue da cidade - português brasileiro, inglês e libras, é um ambiente de formação acolhedora que segue por caminhos opostos aos que fomentam os sistemas de opressões sociais, pensando não apenas em respeitar as diferenças, mas tratar as múltiplas identidades a partir da valorização da sua essência e de uma ancestralidade positivada.
A escola dispõe de uma metodologia que permite o desenvolvimento das crianças não a partir da unilateralidade e sim de uma construção subjetiva saudável que traduz um futuro onde não acredite-se mais em um povo negro e índigena de forma estereotipada e sim debata e impulsione as construções dessas comunidades na ciência, tecnologia, conhecimentos matemáticos, e nas diversas formulações e produções teórico-práticas que sustentaram civilizações.
Todas as abordagens pedagógicas desenvolvidas no ambiente da escola são articuladas aos documentos oficiais do MEC, aos campos de aprendizagem e experiências estabelecidos na Base Nacional Comum Curricular, agrupando à perspectiva afro-brasileira elementos tanto da cultura africana quanto criados em diáspora no Brasil, visando socializar e valorizar tais manifestos com o cuidado de não construir uma visão de história única que retira das pessoas negras a prerrogativa da intelectualidade em outros campos de atuação.
“ Achamos importante que as nossas crianças conheçam a história a partir da narrativa ancestral, saber que já tinham comunidades societárias aqui, antes dos Europeus chegarem, que Pindorama já existia e que não foi uma descoberta portuguesa. Nós tivemos muitos povos com constituições culturais diversas no continente africano que formou o povo brasileiro que é múltiplo, por exemplo", explica Bárbara Carine, idealizadora da Escola.
De acordo com Bárbara Carine a Maria Felipa não destina a sua educação somente para crianças negras, já que as crianças brancas também crescem acreditando que só elas têm ancestrais, reis, rainhas, cientistas, que só elas são belas e podem estar em espaços de poder. "O impacto da educação antirracista é justamente dizer que todas/os/es nós podemos e existimos”, assinala.
Escola Maria Felipa
A escola nasceu em 2017, após Bárbara Carine, idealizadora e consultora pedagógica da instituição, adotar a sua filha e pensar sobre sua educação. No caminho encontrou locais que não valorizam as raízes epistemológicas africanas e ameríndias, bem como a estética e cultura destes povos. Ao perceber que a escola pautada em uma perspectiva decolonial, que contribuísse para o desenvolvimento humano não só da sua filha, mas de todos as alunas(os), não existia, Bárbara aprofundou os dois anos anteriores à fundação em pesquisas e entrevistas com militantes e pesquisadoras(es) da temática étnico-racial e pedagógica.
Foto- Paula Fróes ( divulgação)