Guitarra afinada

Guitarra afinada
Vitor Mascarenhas, escritor e roteirista
Por Victor Mascarenhas, escritor e roteirista

Algumas perguntas parecem que nunca terão uma resposta definitiva. Uma delas é quem inventou a guitarra elétrica. Les Paul, George Beauchamp, Leo Fender ou Adolph Rickenbacker?

Se ninguém sabe essa resposta com precisão absoluta, todo mundo sabe quem inventou a guitarra baiana e se não sabe vai descobrir assistindo “Guitarra Baiana”, documentário de Daniel Talento, que narra a jornada desse instrumento desde o momento em que Osmar e Dodô descobriram o violão elétrico, passando pela invenção do trio elétrico e chegando à guitarra baiana propriamente dita, que ganhou voz e vez nas mãos de Armandinho, um legítimo guitar hero que misturou Jacob do Bandolim com Jimi Hendrix e mudou o carnaval da Bahia.

“As grandes invenções acontecem por uma necessidade e não por um estalo”, diz Luiz Caldas num dos depoimentos do filme, falando sobre o nascimento da guitarrinha que eletrificou frevos e levou o Bolero de Ravel para a avenida. E foi da necessidade de registrar a saga dessa invenção genuinamente baiana que Daniel Talento tomou para si o desafio de contar essa história, sem patrocínio oficial, sem edital e sem nenhuma verba pública, embora o filme não precise ser visto com benevolência pelas suas dificuldades econômicas, coisa tão recorrente na análise do cinema nacional.

“Guitarra Baiana” não perde tempo com estereótipos da baianidade ou com a folclorização chapa branca da Bahia. O filme vai direto ao ponto e registra - de forma divertida, leve e emocionante - a aventura dos dois baianos sem compromisso, que descobriram que o cepo maciço evitava o fenômeno da microfonia. O filme tem a grande virtude de garantir que o espectador saia do cinema sabendo quando, como, onde, porque e para onde vai o objeto central da narrativa. Parece óbvio que um documentário consiga esse resultado, mas não é o que se vê em tantos outros filmes que se transformam em hagiografias dos personagens ou em um amontoado de causos que divertem, mas não respondem as questões que uma obra que pretende contar a trajetória de algo ou de alguém se propõe.

“Guitarra baiana” é um filme honesto, direto, realizado com competência, responsabilidade e respeito por Daniel Talento, uma boa estreia para o diretor e um justo tributo a grandes artistas e criadores que mudaram o nosso carnaval e a música brasileira para sempre.
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