Festas em vias públicas comprometem segurança e mobilidade de turistas

Por José Queiroz* 

O prefeito ACM Neto tem feito um excelente trabalho de recuperação da cidade, e o soteropolitano espera que ele faça muito mais nos próximos quatro anos. Porém, é preciso incrementar ou recuperar a economia do município, investir nas necessidades e prioridades básicas para isto, e gerar emprego e renda que diminuam a violência.

Se for perguntado ao cidadão de Salvador qual é a principal atividade econômica da cidade, a maioria dirá que é o Turismo. Porém, nos últimos anos, esse mesmo cidadão tem sentido a ausência do turista nos pontos turísticos da cidade, e, em muitos casos, está desempregado por causa disto. Milhares de pessoas estão desempregadas com o desaquecimento da atividade, com esse turismo de festas esporádicas. Os maiores centros turísticos do mundo não vivem de festas! Há muita desinformação - e até preconceito! – sobre o Turismo Receptivo, que é o segmento da atividade especializado em receber o turista, com logística, informações, idiomas, etc.

O cidadão baiano que compra um pacote de viagem para qualquer destino se torna um turista, e espera ser recebido com profissionalismo, qualidade e segurança. E os turistas que compram pacotes em diferentes lugares do Brasil ou do mundo para vir a Salvador, esperam o mesmo. Mas, muitas operadoras do país ou do exterior deixaram de vender a cidade – perguntem a seus parentes ou amigos que vivem fora! – ou desestimulam a compra, alegando sujeira, ruína, assédio, roubo, trânsito etc. Arrocha? O que é isso?

Brasileiros e estrangeiros querem vir a Salvador, sim, mas, para isto, ela tem que ser preparada, limpa, iluminada, segura, ser agradável. Não basta ser bonita ou famosa, nem são as bandas que se veem em qualquer lugar do Brasil, desconhecidas no exterior, que irão incrementar o turismo da cidade. Nem a cadeia produtiva se sustenta com cinco dias de réveillon ou seis dias de carnaval! Só os parceiros da Prefeitura, produtores culturais, artistas e donos de camarotes conseguem passar o resto do ano sem trabalhar com o que ganham em festas! Definitivamente, o turismo não precisa de festas!

Para piorar, além dos seis dias perdidos com o Carnaval que inviabiliza o transito numa região imensa do seu entorno e impede a venda de passeios, agora o Turismo tem mais cinco dias de transtornos com o réveillon mais longo do país. No dia 30 de dezembro, por volta das 19 horas, um guia de turismo que acompanhava uma família de franceses, viveu momentos tensos no trecho entre o Moinho Salvador e o acesso ao Túnel Américo Simas. Havia um engarrafamento gigantesco, e não se sabia quem era flanelinha e quem era bandido, já que não havia identificação em todos, nem havia iluminação adequada e policiamento no lugar. Afinal, arrastão tá na moda! Os turistas não iam para a festa, não se metem nesses ambientes, nenhum profissional de turismo oferece festas em vias públicas de Salvador!

Tem causado constrangimento aos turistas que passam pelo Comércio nessa época o contraste entre a suntuosidade do palco e camarotes, e as ruínas dos prédios, os indigentes e dependentes químicos, e os catadores de lata. É justamente o centro de Salvador que passa a impressão de cidade suja, desagradável pelo assédio e hostilidades de vendedores e pedintes, e perigosa, sim! As ocorrências são muitas, diárias e encobertas pelo Governo do estado, Prefeitura e imprensa. A constatação de abandono pelos poderes público é imediata, e os comentários circulam no Brasil e no mundo. Um grupo de pouco mais de 120 portugueses veio passar o réveillon na Praia do Forte, e apenas 30 quiseram fazer um passeio pela cidade. Festa, nem pensar!

A mobilidade de turistas – e baianos! – em Salvador também chegou a um ponto insuportável, questionável, digno de atenção do Ministério Público. A Prefeitura privatizou todos os espaços públicos, entregou-os a pessoas que deveriam trabalhar em outras atividades, não há parada regulamentada para carros de turismo em todos os atrativos, e o policiamento ostensivo da Transalvador, muitas vezes grosseiro, já chamou a atenção dos turistas. Há um exército de cata multas no Aeroporto que tratam motoristas com muita falta de educação! Além disso, a Prefeitura corta o transito onde e quando quer, sem dar satisfação a outras pessoas que precisam circular, trabalhar, ir a hospitais, ou simplesmente acessar suas casas. Ou passear!

O mesmo guia de turismo citado acima se sentiu achacado pela Prefeitura ao ser multado por alguns minutos a mais na Zona Azul, no porto da cidade. Tem que haver outra maneira de administrar isto, cobrar o excedente, não multar simplesmente, R$ 200,00, e ainda por cima considerar ‘falta grave’. O transporte de turismo da cidade foi regulamentado, foi uma boa iniciativa para a profissionalização, os carros estão identificados, mas não há vagas para automóvel de turismo no Aeroporto, no Pelourinho, ou em outros lugares. A Transalvador tem sido um desagradável ator social!

Estas e outras ações simples e objetivas são o que o turismo receptivo da cidade precisa, não de festas. Há 10 anos Governo e Prefeitura mobilizam milhões para festas, trocam farpas, e fingem que a recuperação física e social do Pelourinho, centro de convenções e segurança, não são problemas deles. É notória a falta de profissionalismo institucional no Governo do estado e na Prefeitura, ambos responsáveis por partes do circuito turístico. Mas, também a malandragem de pseudos gestores do Turismo e patrocinadores de campanha que ganham com congressos, resorts, cruzeiros e festas, ou tem interesses imobiliários que ficam claro quando estoura escândalos como o recente. Com isto, a cidade vai perdendo parte da sua história, memória, encanto e turismo.

*José Queiroz é guia de turismo


Festas em vias públicas comprometem segurança e mobilidade de turistas
Um dos primeiros guias turísticos de Salvador, em 1950, obra da autoria de José Valladares. Saiba mais em Memórias da Bahia.
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