As baleias do Rio Vermelho

Por Cristiano Teixeira 

Antes mesmo de Cabral errar o caminho e vir tomar posse dessas paragens, as baleias já cruzavam as praias do Rio Vermelho, que ainda não tinha essa rubra designação – graças ao empenho da Embasa, a empresa pública de saneamento sanitário, no entanto, deveria trocar o nome para Rio Escuro e Fedorento. Antigos moradores do bairro, contam, como se fosse a coisa mais trivial do mundo, ver baleias passar de lá para cá, sem anunciar o seu rumo. Os pescadores de praia já viram centenas e têm isso como um fato tão comum quanto a presença dos xaréus que pescam em dia que a maré está alta.

Eu nunca vi uma baleia em minha vida que não fosse na revista ou no cinema, mas dona Zulmira, a vendedora de água de coco instalada em frente ao Mirante da Paciência, já teve esse privilégio. Foi outro dia, ela me contou, olhou pro mar e lá estavam duas! Mergulhavam exibindo a enorme cauda e esguichavam água quando voltavam à superfície. Uma coisa linda de se ver, segundo suas palavras. No início, ficou impressionada com o tamanho dos peixes, mas depois caiu em si e concluiu que eram baleias. “Baleia não é peixe, é?, me perguntou, e eu não soube o que responder. Era uma tarde de dia de semana, com o sol fazendo um calor de lascar, por isso poucos testemunharam a visita inesperada dos cetáceos. De agora em diante, torce para ver outras, e até passou a se arriscar, trazendo o celular para gravá-las em vídeo, caso reapareçam, para mostrar aos netos. Espera que isso aconteça antes de os vagabundos levarem-lhe o cobiçado aparelho.

Já houve época em que a costa era abundante de peixes e baleias, assim como a Mata Atlântica chegava até a beira da praia, e os tupinambás que banhavam-se nessas águas, vez por outra tinham a grata satisfação de almoçar um europeu gorducho. Mas isso faz muito tempo, e hoje em dia a carne humana é imprópria para consumo, cheia que é de aditivos químicos.

Mas voltando às baleias do Rio Vermelho, o seu retorno à costa em maior frequência, motivou a prefeitura do município pôr uma horrenda representação pretensamente realística de uma cauda de baleia e declarar o mirante da Paciência um observatório do gigantesco e belo animal aquático. Como é necessária bastante paciência até que uma baleia (ou duas) dê o ar da graça, a prefeitura deveria também ter reposto os bancos de madeira que foram surrupiados do local, para que os curiosos aguardem sentados pelo aparecimento delas, uma vez que esperar de pé cansa! Fica aqui a sugestão.

Rio Vermelho, 11 de outubro de 2023.  

Esperando as Baleias 

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