O Parque em 50 anos

Estávamos à procura de uma casa, eu e a Paola e numa certa tarde, não me lembro de que mês, em fins de 58 inicio de 1959, conduzindo uma lambreta Standard, trazendo a minha então jovem esposa na garupa, viemos parar no parque, com um recorte de jornal nas mãos. Foi quando conhecemos o Bahia, uma figura singular, a sua esposa, e passamos a ser vizinhos, como somos até hoje, porém o velho já se foi. Ficaram a sua mulher e os seus dois filhos, que cresceram juntos com os meus, livres como passarinhos, empinando arraias, andando de bicicletas, descendo a ladeira da Rua Alagoinhas em carrinhos de rolimãs, indo pescar xixarro, jogando bola e crescendo pelos espaços vazios, que, segundo ouvi falar, anteriormente, chegou a ter uma raia para a corrida de cavalos...Desde esse dia, se passaram mais de 50 anos...

Antes deste atual, tive mais uma meia dúzia de endereços no Rio Vermelho. Meu pai mudava de casa, parece que, por esporte! Mas, voltando a falar do Parque, que, na verdade, é um morro, que foi um loteamento projetado para ser um bairro residencial, quando a ele cheguei , ainda era um embrião em construção. Havia, é claro, muitos lotes desocupados, que, com o passar dos anos foram sendo ocupados por residências. Por muito tempo, foi assim.

O Parque, como o Rio Vermelho, que era, na época, local de veraneio, era afastado da cidade, uma tranqüilidade total, um pedacinho do paraíso, um interior, mas o tal do progresso foi se alastrando em todas as direções, chegando ao nosso tão querido pedaço. Passamos, então a não ter mais o direito de colocar as nossas cadeiras nos passeios aos sábados, domingos e feriados para jogar uma partida de dominó, de dama, ou de xadrez. Perdemos o costume de fazer aquela rodinha de bate-papo, curtindo a paz que era só nossa aquela rodinha das piadas, quando começou a chegar o comércio...

O Rio Lucaia era ainda um córrego de água limpa onde até se podia tomar banho e pescar alguns pitus. A zona era infestada de gaiamuns que apareciam, em algumas oportunidades, até mesmo dentro de casa, de preferência, nas cozinhas... Hoje , o Parque está totalmente invadido, pelo menos na parte baixa , por empresas representadas por clínicas, escolas, restaurantes , pizzarias, casas de eventos , depósitos, até uma universidade , etc.

A Rua Lucaia , que acompanha o rio, era mato puro e alagadiça quando chovia. Hoje é uma área valorizada que também abriga empresas de diversos ramos de comércio , como centros automotivos, lojas de vendas de móveis de escritório, copiadora, selaria , hoti-fruti-grangeiros e outras... O crescimento da cidade envolveu o bairro de tal forma, que, hoje, ele que estava no fim do mundo, está no seu centro! A tragédia que ocorre , fica por conta dos veículos espalhados por todos os cantos e estacionados de qualquer maneira no meio das ruas, pracinhas e, sobretudo, sobre os passeios. Os automóveis, se transformam numa praga . Os motoristas mal educados, em outra ! O Parque de hoje , circundado de tráfego intenso , é mesmo uma ilha de tranquilidade nos fins de semana , nos feriadões ou na época de férias escolares , quando cessam partes das atividades. Até mesmo algumas ruas viraram passagem para quem conhece melhor a região e foge do movimento de outras vias, usando as internas para escapar e encurtar caminho.

Como tudo muda o tempo todo, o Parque e a nossa vida no bairro mudaram muito , mas ainda conserva o seu charme . Apesar de tudo, continua sendo um local bom de morar . Tem a vantagem , sobre outros, de que , dele, se pode partir , diretamente, para qualquer ponto da cidade ! Conhecem aquela musiquinha , “daqui não saio, daqui ninguém me tira ?”
Pois é...

Sarnelli – P.C.Aguiar 25.04.2009

O Parque em 50 anos

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10 Comentários
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  1. Muito bom Sarnelli, com esse texto você resgata parte da história do Parque Cruz Aguiar, trazendo para o conhecimento, principalmente das novas gerações, aspectos de um Rio Vermelho esquecido no tempo,que, certamente, poucos conhecem.Valeu.

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  2. Adorei esse texto do Sarnelli, quer dizer que no Lucaia tinha até pitu? Que maravilha. Já pensou ficar alí nos bares do lado do rio tomando um cervejinha gelada e pegando o pitu para mandar escaldar de tira-gosto! Pense.

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  3. RECORDAR É VIVER
    Pois é Sarnelli, apesar de morar mais pro lado da Paciência, sempre passava pelo Parque em direção à Chapada onde existiam 3 campos de futebol, no maior deles treinou por um certo tempo o time de futebol profissional do Ypiranga cuja sede e concentração ficava onde hoje é colégio Guiomar Pereira

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  4. Que beleza ler esses textos que tanto ensinam sobre o Rio Vermelho. Vocês estão fazendo uma coisa muito legal, parabéns.

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  5. Meu amigo, se até eu - que estou tão distante, lendo teu texto pude "viver" por alguns momentos a história do Parque Cruz Aguiar, imagino então o quanto este texto significa para quem conhece e vive (ou viveu) por lá!
    Um resgate histórico maravilhoso!

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  6. Olá pessoal !Oi eu de novo ! São 03 h e 17 m ,perdi o sono e vim ver como andavam as coisas por aqui. Foi uma surpresa gratificante saber que o meu modesto texto agradou a todos vocês. Sim, Cinira, ali no rio , se pegava alguns pitus , se podia até pescar de tarrafa e ainda tomar banho. Os meus filhos , um com 52 e outro com 48 anos hoje, brincaram muito nele e , vez por outra, pegavam uns peixinhos conhecidos como sete cores, para os seus aquários. Colocavam armadilhas para gaiamuns...Pino, me lembro do campo de treinamento do Ypiranga , na chapada , e da sua sede aqui no Rio Vermelho. Era um campo no meio do mato , onde eu ia na tentativa de pegar alguns canários, mas hoje não aprisiono mais as avezinhas . Em casa , tenho apenas um casal de periquitos australianos, permitidos pelo Ibama, porque são reproduzidos em cativeiros e não sobrevivem por si só na natureza.

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  7. Sarnelli, parabéns pela coluna. Nasci no Red River e hj moro no Costa Azul. Gostaria muito de voltar a morar na minha segunda casa no futuro. Toda minha família "GÓIS" nasceu, morou e foi criada na Av. Lucaia, à beira do rio. Será que vc já ouviu falar dela? Um abraço.

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  8. Foi por acaso que acessei esse Blog e quero registrar a grata surpresa que tive.Morei no Rio Vermelho quando garota na antiga ladeira do Papagaio, acho que pouca gente sabe que a Cardeal da Silva tinha esse nome, fiquei feliz em verificar essa procupação que vocês estão tendo em mostrar a falta de atenção da prefeitura para com essa bairro( isso não é privilégio de vocês pois todos os bairros estão esquecidos) e ao mesmo tempo resgatar fatos que mostram como a cidade era bem melhor.Sei que não tem como freiar o processo de crescimento, mas se houvesse um pouco de cuidado com a cidade, sem dúvida os danos seriam menores.Parabéns Sarnelli por trazes para todos nos a lembrança de um tempo tão bom.

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  9. É verdade, Emilia. Quando criança morei bem pertinho de onde hoje mora a Carmela e tinha amigos naquelas casinhas. Me lembro do DR.Mata Barros (Prof. de eletro-mecânica, se não me falha a memória ), que morava bem ao lado da nova pracinha , dos seus filhos Ary e Dorinha , e também das construções malucas do professor, transformando a sua casa num verdadeiro labirinto. Naquela época, eu morava mesmo na Ladeira do Papagaio, coisa que muito pouca gente, sabe hoje...

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  10. Obrigado, Paulo . Apareça sempre no Blog do Rio Vermelho, uma criação de D.Carmela Talento, que está fazendo um tremendo sucesso e tem espaço para todo mundo. Claro que conheço a rua Lucaia, que é, imagine você , ligada diretamente com a Rua Feira de Santana, onde moro , e acompanha o rio Lucaia . Me lembro de como foi, mas hoje só tem mesmo casas comerciais e o Parque, na sua parte baixa, infelizmente, foi invadido pelo comércio, que atrai uma quantidade imensa de veículos. Mesmo assim, ainda é um local agradável para se morar . Nos fins de semanas , nas épocas de férias escolares, quando algumas atividades diminuem , o Parque é muito tranquilo . Espero que possa realizar o seu sonho.

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