Artigo: Para se ter uma boa morte, convém abrir a carteira

Por Biaggio Talento,
btalento@grupoatarde.com.br


O dinheiro faz parte do universo funerário há bem mais tempo do que se imagina. Uma das tradições mais antigas da cultura greco-romana é o pagamento  do óbolo de Caronte, o barqueiro sobrenatural que ajuda os espíritos a passarem pelo Estige, um dos rios do Hades, o reino dos mortos. Era uma obrigação entre as providências fúnebres na Antiguidade colocar moedas sobre os olhos (ou dentro da boca) do morto para que ele tivesse condição de pagar a Caronte. Sem a moeda, o espírito iria vagar, ao menos, 100 anos nas margens do rio antes de entrar no Hades.
Artigo: Para se ter uma boa morte, convém abrir a carteira
Óbolo de prata
Se você fosse egípcio e quisesse garantir uma passagem tranquila até o Salão do Julgamento de Mait (onde seu coração é colocado no prato de uma balança para ser comparado ao peso de uma pluma), era batata: precisava pagar a sacerdotes a elaboração de um Livro dos Mortos, com o qual pode-se transitar escapando dos demônios do mundo subterrâneo, seguindo as instruções do pergaminho, até o Salão de Mait.

Na Idade Média, mesmo pecadores contumazes poderiam escapar do tridente do demo. Era só se arrepender dos seus pecados e deixar em testamento uma quantia para a Igreja. Em troca, seria sepultado sob o solo sagrado da igreja e padres rezariam carradas de missas em louvor à sua alma para que ela passasse o menor tempo possível no purgatório e migrasse rápido para o paraíso. Indulgências plenárias vendidas pela Igreja também faziam parte da estratégia de limpar os pecados do católico e evitar o fogo do inferno. É famosa uma frase de um pregador do Vaticano que percorria o interior da Alemanha no século XVI vendendo indulgências aos aldeões: “Quando a moeda tilinta no cofre, uma alma sai do purgatório”.

Artigo: Para se ter uma boa morte, convém abrir a carteira

Nos dias de hoje, o mercado da morte se adaptou no mundo ocidental. Cemitérios foram transformados em jardins floridos (invenção americana), e os empresários do mercado funerário passaram a explorar a nova mentalidade do homem moderno: afastar-se não só da morte como de tudo que lembre ou faça alusão a ela. Assim, passou-se, por exemplo, a maquiar o cadáver para que ele pareça mais jovial que os vivos. A ideia é deixar uma última ótima impressão para parentes e amigos antes de ser enterrado ou cremado.

Artigo: Para se ter uma boa morte, convém abrir a carteira

A criatividade parece ser infinita nesse campo: empresas europeias já lançaram vários produtos online. Um deles consiste em pagar para que todos seus dados bancários (senhas, contas, etc.) e comerciais fiquem guardados num banco de memória. Quando você morrer, a empresa libera os dados às pessoas que você indicou no contrato.
Morrer agora ficou fácil. 

Leitura para lembrar que hoje é Dia de Finados
Acesse link abaixo e visite online a capela Sistina
http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html
Tópicos:

Postar um comentário

0 Comentários
* Os comentários publicados são de inteira responsabilidade do autor. Comentários anônimos (perfis falsos ou não) ou que firam leis, princípios éticos e morais serão excluídos sumariamente bem como, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos e agressivos, não serão admitidos.