Escultura de Iemanjá autoria Manoel Bonfim
Escultor, pintor, ceramista e tapeceiro, autor de várias obras, entre elas a escultura da Iemanjá que fica em frente à Colônia Z1, no Rio Vermelho, um dos monumentos mais visitados da Bahia, o artista Manoel Bonfim morreu praticamente no anonimato no último dia 20 de março e foi sepultado no Cemitério Bosque da Saudade, em Salvador.
A notícia chegou ao Blog no final do mês passado, mas somente nesta terça-feira (05), conseguimos a confirmação com o historiador Gildásio Freitas, após contato mantido por ele com o filho do artista, Manuel Augusto Bonfim. O historiador conhecia muito Bonfim chegou inclusive a trabalhar com ele por um curto período na galeria que mantinha, mas, como a grande maioria, também nada sabia sobre a morte do artistas.
Bonfim morou durante 22 anos no Rio Vermelho, primeiro na subida do Morro do Conselho, ao lado de Sétima Delegacia , depois na Rua da Fonte do Boi , onde funcionava o ateliê de trabalho e a Galeria. Do Rio Vermelho mudou-se para a Boca do Rio e atualmente residia em Coração de Maria.
Para Gildásio, a morte de Bonfim foi uma grande perda para as artes: “ Um dos mais significativos representantes da arte baiana ligada às influências afros. Artista muito talentoso, autor de grandes esculturas e tapeçarias, com destaque para a estátua de Iemanjá, sem dúvida uma das mais conhecidas em todo mundo, que foi inaugurada em frente à Casa do Peso no dia 2 de fevereiro de 1969”. Mas, lembra, que apesar do potencial como artista tinha um temperamento muito explosivo o que dificultava a sua convivência por muito tempo com as pessoas, esse, na opinião de Gildásio, um dos motivos que o levou ao isolamento
Sobre Bonfim
Manoel do Bomfim nasceu em Salvador em 25 de maio de 1928. Era ogã confirmado no Terreiro Casa Branca. Foi casado com Maria Augusta Gomes Bomfim, teve três filhos: Manoel Augusto, João Augusto ( ambos artistas plásticos) e Isa Augusta.
Começou sua trajetória na Escola de Belas Artes (UFBA) , em 1950 onde trabalhava como servente. Observando mestre como Mendonça Filho a primeira influência direta, Alberto Valença, Adolf Buck, Jair Brandão, Réscala, Mário Cravo e Carybé, tornou-se uma das referências mais expressivas no munda das artes .
De acordo com o trabalho “Reflexões da Cultura Ioruba na Arte e nos Artistas Brasileiros” de Antônio Vieira da Silva Universidade de Ifé – Nigéria.” Sua arte afro-brasileira lhe foi despertada também por influência de vários outros artistas mais experimentados, maduros e seguros economicamente. Mário Cravo ensinou-lhe a trabalhar na madeira e esculpir. Agnaldo M. dos Santos que também trabalhou como empregado de Cravo Jr., teve suas influências, pois já esculpia e vendia, individualmente, suas peças, o que lhe serviu de exemplo. Carybé lhe influiu e ajudou por intermédio de seus desenhos em livros sobre a gente do candomblé, orixás e tipos característicos da Bahia. De uma vontade firme e resoluta de vencer e com a ajuda destes dois já consagrados artistas, surgiu mais um nome dentro do rico ambiente artístico baiano: Manoel Bomfim.”
O autor prossegue destacando a influência da religiosidade afro em seus obras: "identificou e redescobriu na religião de orixás, suas verdadeiras raízes, e, começou a trabalhar "como negro e artista negro" como ele mesmo afirma. Foi o primeiro no Brasil a fazer todos os orixás do panteão nagô-jeje (iorubá) da Bahia, em madeira, 1964. Também fez uma série de orixás em tapeçaria e reproduziu seus símbolos, armas dos mesmos, nas cores características e próprias de cada orixá, de acordo com a tradição. Em forma de tapeçaria Bonfim produziu 200 peças. Para o Segundo Festival de Artes e Cultura Negra (FESTAC), ele fez 17 peças em madeira, em baixo e alto-relevo, representando os orixás e sequenciando o ritual de iniciação de iaôs. Seus trabalhos não foram aprovados pela comissão julgadora (inexplicavelmente) e assim, seus irmãos do outro lado do Atlântico, na África, não puderam ver e admirar sua arte e seu talento. Manoel Bomfim vem contribuindo imensamente, para o progresso e divulgação de sua gente e cultura afro-brasileira porque acredita ."que todo negro deve se valorizar e divulgar a sua cultura, sua arte e suas tradições, procurando galgar a posição que bem merece no cenário artístico brasileiro contemporâneo. Já é mais que tempo de reconhecer esta realidade e, em nossos dias, é obscurantismo e atraso não reconhecer esta verdade. Seus orixás em madeira, tapetes, desenhos e pintura, são parte de coleções privadas, museus e casas familiares, por todo o país e exterior”.
Sobre Manoel Bonfim, Jorge Amado escreveu: “É um filho do povo da Bahia, cuja arte ingênua, porém verdadeira, nasce diretamente das fontes da cultura popular e se mantém fiel às origens em sua criação despida de artificialismos, de modismo, integrada nas tradições e na vida."
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Eu não sou e não gosto muito de aparecer, mas lamentei o fato de que quando o Blog disse que a notícia lhe chegou no final do mês de maio, se esqueceu de informar qual o meio que a fez chegar até ele.Tudo começou com uma telefonema vinda da Itália de uma irmã , um contato com um irmão que mora no Rio, que buscavam informações. Claro que fiz um primeiro contato com o Blog e , a partir dai, passamos a procurar notícias. A primeira informação , no entanto, ainda não confirmada, chegou ao blog por meu intermédio. Esta é a verdade . Depois fiz contato o Cemitério Bosque da Saudade, ocasião em que forneci ao Blog todos os detalhes da localização do túmulo do Sr. Manoel Bonfim.Faltava, apenas uma fonte oficial para confirmar o fato. O estranho, no caso, é que a mídia , nem a comunidade de uma maneira geral, ainda não tomaram conhecimento do falecimento do SR.Bonfim. A primeira postagem que vejo, é a do Blog do Rio Vermelho,. muito bem elaborada, mas com um detalhe esquecido.
ResponderExcluirCaro amigo, não foi esquecido não, apenas vc não autorizou a faze-lo. Tenho os emails que trocamos onde vc diz claramente que não queria o seu nome envolvido com a história. Lembra? Temos o máximo cuidado em dar credito às informações passadas, isso somente não é feito quando pedem para não aparecer foi esse o caso em questão. Se achar necessário para esclarecer a questão posso postar os emails no Blog. Se fui atrás de outra pessoa para confirmar a informação foi exatamente porque vc não quis que colocasse o seu nome.
ExcluirEu acho que é melhor deixar tudo como está, para não transformarmos o assunto numa novela, mesmo porque não vale a pena . Já expliquei tudo via mail que mandei há poucos minutos, que terminei por considerar o assunto um acidente de percurso. Acho , seguramente, que houve má interpretação de ambas as partes . Para mim , o assunto acabou aqui e ainda digo mais. Acho que seria o caso de deletar todas estas postagens . Passar uma borracha . A decisão é do Blog.
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