Convivendo com o terror

Por Dilton Machado

Por duas oportunidades já estive aqui no blog, a comunicação com o mundo de forma mais ampla sobre a minha relação com o território onde resido foi possível através deste veículo. Uma vez foi quando relatei um fato assustador que vivenciei no bairro, mas que foi possível tratar do quase sinistro com bom humor, e até vi, com prazer e reconhecimento, a intervenção do poder municipal no caminho da solução do problema então por mim apresentado. A outra passagem foi para deixar pública minha indignação e protesto sobre agressões sofridas por frequentadores do nosso bairro, particularmente pessoas próximas muito queridas, sobrinhas minhas, vítimas de agressão por parte de um machista que pensou que não haveria consequências. O incauto estava enganado e as providencias cabíveis foram tomadas. Volto agora para fazer coro com vizinhos que aqui já se manifestaram anteriormente sobre o assunto que vou tratar, para o qual parece não haver solução: a precariedade da segurança pública.

Moro na Rua Alagoinhas há mais de trinta anos, meu amor por este logradouro é sempre reafirmado por mim em prosas e versos, nunca pensei em sair daqui. Mas, para meu desgosto, minha rua está virando uma espécie de “faixa de Gaza” tupiniquim, transitar por ela virou uma roleta russa, onde a expectativa nefasta é saber quando será a nossa vez de levar um ferro. Os assaltos são constantes, recentemente meu amigo e vizinho Sinval levou um tiro desferido por um bandido num início de noite de um dia aparentemente normal na frente do prédio onde mora, só não retornou ao orum porque seu ori é forte, e acredito que nossas orações também ajudaram e tem ajudado na sua recuperação. Sinceramente, ninguém aguenta mais. A incidência de delitos já ficou insuportável, e, apesar dos esforços da nossa associação de moradores e das declarações dos responsáveis governamentais pela segurança pública local, na prática o que vemos é o aumento da ousadia e da ocupação das ruas pelos marginais. E olhem que temos uma unidade fixa da policia militar na rua Ilhéus, o que deveria no mínimo espantar a bandidagem.

A mais nova vítima dessa escalada de violência foi minha filha, que ontem, quando se dirigia a pé a uma academia de ginástica bem próxima da nossa casa, foi assaltada (pela segunda vez), e o máximo que podemos fazer á agradecer aos santos e orixás por ela não ter sofrido nenhuma violência física. É importante o agradecimento, mas o que queremos mesmo são providências concretas das autoridades competentes. Queremos continuar andando prazerosamente pela nossas ruas como se corredores das nossas casas fossem (Sim! Até pouco tempo atrás isso era possível), ir pegar uma revista na banca de Romualdo sem sustos, ou ficar no bar de Bahia ou de Nandão jogando conversa fora sem sobressaltos até um pouco mais tarde ou nos finais de semana onde é possível nos apropriamos do bairro quando suas ruas estão vazias. A constatação que o Rio Vermelho não é uma ilha, que a insegurança pública está presente em toda a cidade, é ululantemente óbvia. Mas aqui estamos tratando do nosso microcosmo, da nossa aldeia, um espaço possível de ter um planejamento mínimo preventivo em relação a ataques de terroristas sem causa, com ruas de entrada e saída bem definidas, com uma unidade policial estrategicamente instalada no local, mas onde os meliantes, como diria Gil Gomes, estão ganhando de goleada. Pode parecer prosaico, mas umas boas duplas de Cosme e Damião, tão conhecidas por todos da minha geração, circulando permanentemente, já poderia ser um bom começo, vejam onde chegamos, até o retorno ao passado sem tecnologias ou aparatos mirabolantes está virando sugestão.

É isso, este texto é meio desabafo, meio manifestação de protesto, meio atestado da sensação de impotência, do acúmulo de descrédito, seja o que for, quem mora por aqui sabe do que estou falando, queremos uma proteção mais presente, o retorno da sensação de segurança, algo que parece bem distante. Mas, como dizia minha avó, a esperança e a ultima que morre. Pelo que temos convivido nesses últimos tempos, é somente o que nos resta.

13 de maio de 2017

Convivendo com o terror

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10 Comentários
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  1. Reflexão pertinente, o autor do texto expressando com muita propriedade o sentimento de boa parte dos moradores do Rio Vermelho. A sensação de insegurança é total.

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  2. EStá muito complicada a situação do bairro. A secretaria de segurança precisa olhar o bairro com olhos bem atentos. o governo precisa também tomar providência urgente. Comerciantes e moradores já não suportam conviver com tanto medo, violência.

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  3. Penso que os órgãos de segurança deveriam reavaliar a estratégia que estão adotando no bairro. Leio nesse Blog muitas publicações de ações da 12ªCIPM, mas pelo visto não estão conseguindo dar conta, pode ser o efetivo policial insuficiente, sei lá, mas que alguma coisa tem que ser feita, isso tem!

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  4. Assino embaixo com tudo o que foi escrito, vivemos mesmo na síndrome do medo . As providências devem ser urgentes. Parabéns ao autor do texto

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  5. Lamentável, já morei na rua remanso e hojeeee estou na maragopipe, 33 anos de rv,nunca vivi tanto terror e insegurança, realmente necessitamos de ações mais efetivas dos poderes públicos, não podemos fazer caminhadas, ou sair de casa com tranquilidade.

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  6. Estão nos condenando a prisão domiciliar. A bandidagem solta e o cidadão de bem preso em casa.

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  7. Comentário pertinente e em sintonia com o sentimentos dos moradores. Que Deus nos ajude!

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  8. Toda paz e liberdade de morar e caminhar pelas ruas dos RV, o que sempre foi um diferencial do bairro em relação aos demais, está sendo roubada diariamente pelo poder paralelo, uma vez que o Poder Publico não age de forma efetiva. Precisamos das policias nas ruas, já!

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  9. Queria alertar aos moradores e frequentadores do Rio Vermelho que a nossa policia Militar e Civil trabalham e muito,mais estamos num pais que as leis só beneficia os delinquentes.Aqueles que tiverem duvidas podem participar das reuniões que são realizadas no Conselho de Segurança do Bairro. Recente houve um assalto num bar do bairro, e foram presos dois marginais, que foram levados para audiência de custodia, e mesmo tendo colocado a vida de pessoas em risco sob mira de armas, foram soltos antes dos policiais prestarem depoimento;Então os marginais tem mais moral que a policia? Ou mudamos as leis ou a vaca vai para o brejo.Alias já foi!

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