Artigo: BBB e a política no Brasil

Biaggio Talento
Toda vez que se anuncia uma nova versão do BBB ou programas similares, penso que o escritor George Orwell deve se revira no túmulo diante do seu notável 1984, um dos principais livros políticos do século XX, ser usado como “inspiração” para, como diziam os críticos de cinema do passado, “mixórdias inqualificáveis” como o “Big Brother Brasil”. A ironia é que lixos culturais como o BBB se prestam à tarefa de manter na ignorância milhões de pessoas que poderiam usar o tempo que perdem assistindo ao saco de baboseiras do programa, lendo um bom livro como o 1984 que continua atualíssimo, apesar de ter sido publicado em 1949 quando o mundo assistia à Guerra Fria e a escalada nuclear.

A sistematização da luta pelo poder, a forma de mantê-lo oprimindo e deixando o povo na ignorância é descrito de forma clara e contundente na obra de Orwell. Impressiona a semelhança do processo político do passado com o que ocorre, hoje, no Brasil, quando os partidos deixam suas ideologias de lado e mostram-se dispostos a firmar qualquer tipo de aliança se isso significar alcançar o poder.

Um dos trechos mais marcantes de 1984 é quando o personagem Winston lê trechos de um livro proibido pelo regime daquela sociedade totalitária em que vive – inspirada no stalinismo. É o “Teoria e prática do coletivismo oligárquico” escrito pelo inimigo número 1, o dissidente Emmanuel Goldstein. A forma didática usada para falar da luta de classe é a seguinte. Ele constata que ao longo da história da Humanidade, sempre existiram três tipos de pessoas no mundo: “as Altas, as Médias e as Baixas” que se subdividiram de várias maneiras e tem variado em diversas épocas, “mas a estrutura primordial da sociedade jamais foi alterada”.

Assinala que os objetivos desses três grupos são inconciliáveis: “o objetivo dos Altos é continuar onde estão. O objetivo dos Médios é trocar de lugar com os Altos. O objetivo dos Baixos, isso quando tem um objetivo – pois uma das características marcantes dos Baixos é o fato de estarem tão oprimidos pela trabalheira que só a intervalos mantém alguma consciência de toda e qualquer coisa externa a seu cotidiano -, é abolir todas as diferenças e criar uma sociedade na qual todos os homens sejam iguais”.

Nesse quadro, um conflito básico se repete ao longo da história, diz Goldstein: “durante longos períodos os Altos parecem ocupar o poder de forma absolutamente inabalável, porém mais cedo ou mais tarde sempre chega o dia em que eles perdem ou a confiança em si mesmos ou a capacidade de governar com eficiência – ou as duas coisas. São derrubados pelos Médios, que angariam o apoio dos Baixos fingindo lutar por liberdade e justiça”.

Contudo, “nem bem atingem seu objetivo, os Médios empurram os Baixos de volta para sua posição subalterna, a fim de se tornarem eles próprios os Altos. Nesse momento um novo grupo de Médios se desprende de um dos dois outros grupos, ou de ambos, e o conflito recomeça. Dos três grupos apenas os Baixos jamais conseguem, nem temporariamente, sucesso na conquista de seus objetivos” Assim, “do ponto de vista dos Baixos, nenhuma mudança histórica chegou a significar muito mais que uma alternativa no nome dos seus senhores”.

Lembra também que, no passado, os Médios que lutavam por poder haviam feito revoluções sob a bandeira da igualdade, para depois instalar uma nova tirania assim que a anterior era derrubada.

Sobre a necessidade de os donos do poder manter a desigualdade social como forma de preservar a sociedade hierárquica, explica que “se lazer e segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de serem humanos que costuma ser embrutecida pela pobreza, se alfabetizaria e aprenderia a pensar por si. Depois que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde essa massa se daria conta de que a minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela”. A conclusão é óbvia. “Uma sociedade hierárquica só era possível num mundo de pobreza e ignorância”.

Pelo que assistimos nos dias de hoje, 1984 poderia ser adotado nas escolas como tratado de cidadania. Mas há risco de os pobres se alfabetizarem e aprendessem a pensar por si…Para quem não conhece e se interessa por política, a Companhia das Letras publicou recentemente uma nova edição de 1984
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12 Comentários
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  1. Olá Biaggio

    Parabéns pelo texto, li e gostei muito.É uma boa reflexão.

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  2. Leitura obrigatória.

    Muito obrigado.

    Para aqueles que desejam conhecer, encontrarão facilmente através do Google.

    Nos links abaixo, uma versão traduzida para o Português em pdf.

    http://www.megaupload.com/?d=HG06WDZ0

    http://www.4shared.com/file/Pu66ur8s/1984_-_George_-_Orwell.html

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  3. Esse BBB é uma das coisas mais insanas que a televisão brasileira já produziu e continua insistindo. Mas o povão gosta e a Rede Bobo gosta ainda mais dos lucros dos anunciantes, e essa é a lógica que prevalece. Parabéns pelo texto Biaggio. George Orwell deve mesmo se revirar no túmulo a cada nova edição do BBB.

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  4. Adooooro o BBB! Não perco um. Não sei porque estão falando mau domelhor programa da tv. Amo Biau, bjão Biau.

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  5. Tem gosto prá tudo, não fosse assim o programa não faria tanto sucesso.

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  6. A polêmica é essencial e mostra que o assunto merece reflexão. Gostaria de acrescentar que o BBB tem se constituído numa excelente experiência para uma avaliação do comportamento humano, tem um viés interessante. Outra contribuição a ser considerada é a exposição de pessoas, cujas opções sexuais têm sido vistas com preconceito e discriminação, que acabam conquistando o público. Ninguém pode negar esse papel transformador do programa, haja vista a escolha do público por um homossexual declarado para vencer o grande prêmio, como foi caso de Jean Wyllys, hoje eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro. Isso é um avanço fabuloso.

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  7. Veja o que diz o cordelista.
    BIG BOSTA BRASIL

    Curtir o Pedro Bial
    E sentir tanta alegria
    É sinal de que você
    O mau-gosto aprecia
    Dá valor ao que é banal
    É preguiçoso mental
    E adora baixaria.

    Há muito tempo não vejo
    Um programa tão ‘fuleiro’
    Produzido pela Globo
    Visando Ibope e dinheiro
    Que além de alienar
    Vai por certo atrofiar
    A mente do brasileiro.

    Me refiro ao brasileiro
    Que está em formação
    E precisa evoluir
    Através da Educação
    Mas se torna um refém
    Iletrado, ‘zé-ninguém’
    Um escravo da ilusão.

    Em frente à televisão
    Lá está toda a família
    Longe da realidade
    Onde a bobagem fervilha
    Não sabendo essa gente
    Desprovida e inocente
    Desta enorme ‘armadilha’.


    Cuidado, Pedro Bial
    Chega de esculhambação
    Respeite o trabalhador
    Dessa sofrida Nação
    Deixe de chamar de heróis
    Essas girls e esses boys
    Que têm cara de bundão.

    O seu pai e a sua mãe,
    Querido Pedro Bial,
    São verdadeiros heróis
    E merecem nosso aval
    Pois tiveram que lutar
    Pra manter e te educar
    Com esforço especial.

    Muitos já se sentem mal
    Com seu discurso vazio.
    Pessoas inteligentes
    Se enchem de calafrio
    Porque quando você fala
    A sua palavra é bala
    A ferir o nosso brio.

    Um país como Brasil
    Carente de educação
    Precisa de gente grande
    Para dar boa lição
    Mas você na rede Globo
    Faz esse papel de bobo
    Enganando a Nação.

    Respeite, Pedro Bienal
    Nosso povo brasileiro
    Que acorda de madrugada
    E trabalha o dia inteiro
    Dar muito duro, anda rouco
    Paga impostos, ganha pouco:
    Povo HERÓI, povo guerreiro.

    Enquanto a sociedade
    Neste momento atual
    Se preocupa com a crise
    Econômica e social
    Você precisa entender
    Que queremos aprender
    Algo sério – não banal.

    Esse programa da Globo
    Vem nos mostrar sem engano
    Que tudo que ali ocorre
    Parece um zoológico humano
    Onde impera a esperteza
    A malandragem, a baixeza:
    Um cenário sub-humano.

    A moral e a inteligência
    Não são mais valorizadas.
    Os “heróis” protagonizam
    Um mundo de palhaçadas
    Sem critério e sem ética
    Em que vaidade e estética
    São muito mais que louvadas.

    Não se vê força poética
    Nem projeto educativo.
    Um mar de vulgaridade
    Já tornou-se imperativo.
    O que se vê realmente
    É um programa deprimente
    Sem nenhum objetivo.

    Talvez haja objetivo
    “professor”, Pedro Bial
    O que vocês tão querendo
    É injetar o banal
    Deseducando o Brasil
    Nesse Big Brother vil
    De lavagem cerebral.

    Isso é um desserviço
    Mal exemplo à juventude
    Que precisa de esperança
    Educação e atitude
    Porém a mediocridade
    Unida à banalidade
    Faz com que ninguém estude.

    É grande o constrangimento
    De pessoas confinadas
    Num espaço luxuoso
    Curtindo todas baladas:
    Corpos “belos” na piscina
    A gastar adrenalina:
    Nesse mar de palhaçadas.

    Se a intenção da Globo
    É de nos “emburrecer”
    Deixando o povo demente
    Refém do seu poder:
    Pois saiba que a exceção
    (Amantes da educação)
    Vai contestar a valer.

    A você, Pedro Bial
    Um mercador da ilusão
    Junto a poderosa Globo
    Que conduz nossa Nação
    Eu lhe peço esse favor:
    Reflita no seu labor
    E escute seu coração...(continua em comentário abaixo por causa do número de caracteres aceito)

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  8. E vocês caros irmãos
    Que estão nessa cegueira
    Não façam mais ligações
    Apoiando essa besteira.
    Não deem sua grana à Globo
    Isso é papel de bobo:
    Fujam dessa baboseira.

    E quando chegar ao fim
    Desse Big Brother vil
    Que em nada contribui
    Para o povo varonil
    Ninguém vai sentir saudade:
    Quem lucra é a sociedade
    Do nosso querido Brasil.

    E saiba, caro leitor
    Que nós somos os culpados
    Porque sai do nosso bolso
    Esses milhões desejados
    Que são ligações diárias
    Bastante desnecessárias
    Pra esses desocupados.

    A loja do BBB
    Vendendo só porcaria
    Enganando muita gente
    Que logo se contagia
    Com tanta futilidade
    Um mar de vulgaridade
    Que nunca terá valia.

    Chega de vulgaridade
    E apelo sexual.
    Não somos só futebol,
    baixaria e carnaval.
    Queremos Educação
    E também evolução
    No mundo espiritual.

    Cadê a cidadania
    Dos nossos educadores
    Dos alunos, dos políticos
    Poetas, trabalhadores?
    Seremos sempre enganados
    e vamos ficar calados
    diante de enganadores?

    Barreto termina assim
    Alertando ao Bial:
    Reveja logo esse equívoco
    Reaja à força do mal…
    Eleve o seu coração
    Tomando uma decisão
    Ou então: siga, animal…

    FIM

    Autor: Antonio Barreto,
    Cordelista, natural de Santa Bárbara-BA,residente em Salvador.

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  9. Não vou negar que assisti alguns programas e pude percebe que nesse confinamento são explorados os piores sentimentos do ser humano, isso não é exemplo para ninguém, quanto à questão da homossexualidade discordo que o programa ajuda a minimizar o preconceito, o que ajuda nesse sentido é educação.

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